ENTRE O OFICIAL E O OFICIOSO: OS DESAFIOS DO PORTUGUÊS E OUTRAS LÍNGUAS NOS PALOP

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Projeções das Nações Unidas estimam que o português será a primeira língua de 400 milhões de pessoas em 2050, e que esse número poderá mesmo ultrapassar a fasquia dos 500 milhões no final do século. O aumento ficará a dever-se sobretudo ao intenso crescimento demográfico previsto para Angola e Moçambique – que, em 2100, poderão ter, em conjunto, 300 milhões de habitantes, ultrapassando o Brasil. No entanto, pertencer à Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) está longe de significar ter o português como língua materna, ou tão pouco falar o idioma. Não obstante, nestes territórios, o português é visto como uma língua global, de futuro e oportunidades.

Projeções das Nações Unidas estimam que o português será a primeira língua de 400 milhões de pessoas em 2050, e que esse número poderá mesmo ultrapassar a fasquia dos 500 milhões no final do século. O aumento ficará a dever-se sobretudo ao intenso crescimento demográfico previsto para Angola e Moçambique – que, em 2100, poderão ter, em conjunto, 300 milhões de habitantes, ultrapassando o Brasil. No entanto, pertencer à Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) está longe de significar ter o português como língua materna, ou tão pouco falar o idioma. Não obstante, nestes territórios, o português é visto como uma língua global, de futuro e oportunidades.

Neste artigo, analisamos os contextos linguísticos dos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP), e procuramos perceber a forma como estas nações, outrora colonizadas, olham para o futuro, quer dos idiomas ditos nacionais – num momento em que movimentos pela sua valorização ganham cada vez mais força –, quer do português, que escolheram oficializar após as independências.

Um português «marcado pelas línguas africanas»

Segundo os últimos censos em Angola, realizados em 2014, cerca de 71 % das pessoas falam o português em casa, sendo este o idioma mais usado no país – o segundo maior de língua oficial portuguesa, depois do Brasil. «É um número brutal que significa a irreversibilidade da adoção do português pelos angolanos como sua língua nacional, ao lado de outras línguas de origem africana, mais concretamente de origem bantu», afirma João Melo. O escritor e jornalista, que se tem posicionado publicamente sobre o tema, acredita que o número de falantes do português deverá aumentar no próximo recenseamento da população – tal como se tem verificado nas últimas décadas –, com o alargamento da urbanização, o aumento do número de jovens e a mobilidade territorial dos cidadãos.

Neste território, o idioma predomina no litoral e nos principais centros urbanos, onde residem perto de 60 % dos angolanos. «Aí, a tendência é as pessoas falarem apenas em português. E muitas famílias não falam nenhuma outra língua», diz João Melo, acrescentando: «É claro que é um português influenciado e marcado pelas línguas africanas.» As diferenças, como explica, existem principalmente na língua falada, não só ao nível do léxico, mas também no plano sintático, ou da pronúncia. «Há alguns fenómenos, como a tendência para cortar o s, quando se faz o plural, que é uma tendência que também existe no Brasil, exatamente pelas mesmas razões», elucida. «As línguas bantas angolanas – e as línguas bantas, em geral – não usam s para fazer o plural. Portanto, na língua falada é comum, sobretudo, pessoas sem muita escolaridade, ouvi-las falar no plural, mas sem s», exemplifica.

Para o escritor, o futuro passará pela formalização de uma variante nacional, mas, primeiro, é preciso estudar as mudanças em curso. «Estudá-las, normalizá-las e estabelecer as normas e as regras dessa variante angolana do português, como os brasileiros fizeram. Esse é o caminho, que, para mim, é inevitável em Angola também.»

Variação, variedade e variante

«A variação é um fenómeno presente em todas as línguas, podendo ocorrer no tempo (diacrónica), em termos geográficos (diatópica), na sociedade (diastrática) e mesmo no que respeita às modalidades de expressão (diafásica)», explica Ana Salgado, presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa. O português, atualmente, é língua materna e língua oficial em Portugal e no Brasil. Em África, é a língua oficial nas Repúblicas de Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e – mais recentemente – na Guiné Equatorial.

É também língua oficial em Timor-Leste e em Macau, sendo ainda falada residualmente em Goa, Damão e Diu. «Podemos assim falar da variedade portuguesa, brasileira, africana e asiática da língua portuguesa. Uma variedade remete para o conjunto de traços, marcas linguísticas, que são específicos ou característicos de um sistema linguístico, adotado por uma determinada comunidade, e que pertencem a um [sistema] maior.» O português é «uma língua dispersa geograficamente e que, tendo-se tornado
língua oficial de diferentes países, apresenta naturalmente usos distintivos nas diferentes comunidades em que é falado», remata Ana Salgado. «Quando determinado elemento linguístico admitido numa língua concorre com outro, então, devemos falar de variante.»

Valorizar as línguas nacionais, sem desvalorizar o português

Em Moçambique, dados oficiais indicam que o português é falado – como língua primeira e segunda – por aproximadamente metade da população, partilhando espaço com dezenas de outros idiomas – sobretudo do grupo bantu –, dominados por mais de 80 % das pessoas. Porém, o mosaico linguístico vivido no país não se espelha nas políticas vigentes, sendo o português a única língua oficial, conforme consigna a Constituição da República – não obstante, o documento valorizar também as línguas nacionais.

Na pérola do Índico, como é conhecida esta nação da África Austral, o português é indissociável da vida administrativa e económica. «Para conseguir um salário do Estado, para se formar, para poder trabalhar no banco, o português é importante», conta David Langa, linguista e professor da Universidade Eduardo Mondlane. «As línguas nativas, que não o português – as bantas –, não têm acesso a esses espaços. Os funcionários podem falar essa língua entre eles, podem falar com uma pessoa se souberem que essa pessoa fala a língua, mas não podem fazer os requerimentos, por exemplo, para oficializar o espaço onde vivem.» Na opinião do docente, tal situação traduz-se num «preconceito linguístico», dada a «função vazia» desses idiomas.

Leia o artigo, na sua íntegra, aqui!

Fonte: Gerador

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