O Diretor Executivo do IILP, Dr. Gilvan Müller de Oliveira, encerrou neste sábado mais uma etapa de formação de professores bilíngues Português-Nheengatu, a Língua Geral Amazônica, na pequena localidade de Cucuí, na fronteira tríplice do Brasil, Colômbia e Venezuela, no coração da floresta amazônica, a 1.350 km de Manaus.
A formação é parte da Licenciatura em Política Educacional e Desenvolvimento Sustentável da UFAM – Universidade Federal do Amazonas, primeiro curso superior do Brasil que leva em conta a cooficialização de línguas em nível municipal ao lado do português, uma tecnologia social de que o município de São Gabriel da Cachoeira, onde fica Cucuí, foi pioneiro, com lei aprovada pela Câmara dos Vereadores.
Neste grande município de 112 mil quilômetros quadrados onde são faladas 23 línguas de cinco famílias linguísticas diferentes (famílias tupi, tukano oriental, aruak, maku e românica), as línguas baniwa, nheengatu e tukano são oficiais desde 2002, e o processo ganhou novos territórios em municípios que oficializaram suas línguas depois disto, como o pomerano em Santa Maria do Jetibá, Pancas, Vila Pavão e Laranja da Terra, no Espírito Santo e São Lourenço do Sul, no Rio Grande do Sul; o Talian (ou Vêneto Brasileiro) em Serafina Correia, também no Rio Grande do Sul; o Hunsrückisch em Antônio Carlos e o Alemão em Pomerode, ambos municípios de Santa Catarina e, finalmente, o Guarani em Tacuru, no Mato Grosso do Sul.
A Licenciatura pioneira da UFAM encontra-se já no seu segundo ano, e forma professores bilíngues em português e as três línguas cooficiais do município em três pólos diferentes, nas três calhas de rios onde cada uma das línguas é hegemônica: O nheengatu em Cucuí, no Rio Negro, o tukano em Taracuá, na confluência do Rio Vaupés e do Tiquié e o baniwa no Rio Içana.
Os docentes são majoritariamente do quadro de professores da UFAM em Manaus e deslocam-se para estes longínquos pontos do território para trabalhar com os alunos em uma metodologia inovadora, o Ensino via Pesquisa (EvP), em um curso que ao invés de disciplinas é organizado por projetos de pesquisa realizados, em sequência, pelos estudantes, a partir de problemáticas relacionadas com suas práticas docentes e de agentes locais de desenvolvimento sustentável. Ao mesmo tempo que pesquisam e discutem, publicam seus resultados em português e nas línguas cooficiais, tornando-se professores autores e criando a própria bibliografia que usarão nas escolas.
Este trabalho em parceria com a Universidade Federal do Amazonas insere-se, para o IILP, nas perspectivas apresentadas na Carta de Maputo, desenvolvida no Colóquio Internacional sobre a Diversidade Linguística nos Países da CPLP, realizado pelo IILP em setembro de 2011 em Moçambique, e que tratou de como os Estados Membros da CPLP fazem a gestão do seu plurilinguismo interno, valorizando o português sem desqualificar ou calar as demais línguas faladas por seus cidadãos, em perspectiva adequada ao século XXI e decorrente das importantes discussões realizadas na área pela UNESCO e outras organizações internacionais.
Um dos produtos desta etapa foi a fixação de uma proposta de alfabeto unificado para o Nheengatu, a ser agora discutido com outros grupos de autores, professores e gestores, numa espécie de ‘pequeno Acordo Ortográfico’ para esta língua, que foi originada e acompanhou a colonização portuguesa nesta região da América desde o século XVII, e que foi hegemônica na Amazônia brasileira, em mais de 3 milhões de quilômetros quadrados, até o Ciclo da Borracha, nas duas primeiras décadas do século XX.