“O emocionante depoimento de um annobonense em sua língua, aliado a uma música cuja letra se refazia na voz de outro seu conterrâneo, sinalizou as tantas travessias e interrupções que a história lhes impôs e que a língua, ali, naquele momento, reunia e resignificava.”
Arena Blanca, situada na província de Luba, perto de Malabo, foi o primeiro local visitado pelo grupo de pesquisadores designado pelo IILP, em parceria com o Governo da Guiné Equatorial, para a pesquisa sobre o Fá d´Ambô ou a fala de annobón.
A visita aconteceu na tarde do dia 12/03, após reunião técnica ocorrida no hotel 3 de Agosto, em que se ajustou o cronograma de trabalho. Também na tarde de 12 de março, em uma sala do Ministério dos Assuntos Exteriores, teve início o registro da língua para sua descrição e análise histórica.
De acordo com estudos preliminares, muitos falantes do Fá d´Ambô, originalmente habitantes da Ilha de Annobón, vivem em Bioko, majoritariamente em Malabo e em suas proximidades. Outros estudos indicam também uma grande quantidade de annobonenses na Espanha.
Concentrando-se em Malabo e, de modo especial, em Annobón, a investigação em curso prevê ações que visam a conhecer mais detalhadamente a situação linguística das comunidades annobonenses, incluindo, por um lado, um trabalho descritivo da língua por eles falada e, por outro, os seus âmbitos de uso e de circulação, observando também a taxa de sua transmissão a jovens e crianças. O documento final desses registros será publicado pelo IILP e pela Guiné Equatorial, com vistas a mostrar que o país tem, entre suas línguas, um idioma formado no contato com a língua portuguesa.
Pequena comunidade na beira do mar com aproximadamente 200 moradores , dos quais cerca de 20 famílias são annobonenses, Arena Blanca deu indicações importantes para a continuidade da pesquisa: na varanda do pequeno bar onde as conversas aconteceram e onde várias pessoas responderam a um questionário, foi comum ouvir o Fá d´Ambo, ao lado do Fang, do Espanhol e do Bubi, entre outras línguas ali faladas. O emocionante depoimento de um annobonense em sua língua, aliado a uma música cuja letra se refazia na voz de outro seu conterrâneo, sinalizou as tantas travessias e interrupções que a história lhes impôs e que a língua, ali, naquele momento, reunia e resignificava.
Desde o primeiro encontro, no dia 10 de março, o diálogo aberto e a amizade marcaram a relação entre os pesquisadores nacionais e os da equipe do IILP. Já naquela ocasião, Don Angel Moleila Mokara, Secretário de Estado, reafirmou a vontade do Governo em realizar ações que conduzam a uma aproximação efetiva da GE com a CPLP, enfatizando a importância da pesquisa para esse fim.
A missão tem sido dirigida por Isabel Oyana Ayomo Nsangñ, Diretora Geral de Lusofonia da Guiné Equatorial, tendo como pesquisadores de campo a Doutora Rosângela Morello (IPOL), coordenadora da missão no terreno, a doutoranda Ana Lívia dos Santos Agostinho e o mestrando Alfredo Christofoletti Silveira, ambos da USP.
O coordenador geral do programa de cooperação técnica do IILP com a Guiné Equatorial é o Dr. Gilvan Müller de Oliveira, diretor executivo do Instituto. Participam do esforço também o Prof. Dr. Gabriel Araújo, da USP, orientador dos pós-graduandos em campo, e o Dr. Manuel Veiga, consultor do projeto, coordenador do mestrado em crioulística da Universidade de Cabo Verde e ex-ministro da cultura daquele país.