A despeito do artigo publicado sobre a prorrogação do Acordo Ortográfico no blogue do escritor Luiz Carlos Amorim, o professor Mário Filipe Silva, da Universidade Aberta (Portugal) , expôs seu comentário sobre a temática: “li com agrado seu primeiro parágrafo sobre alguém que resolve mudar uma palavra uniforme em português só porque tem a ideia peregrina de que uma palavra precisa de um “a” final para designar alguém no feminino.
Já no seguimento de sua prosa constato uma estranha confusão entre ortografia e oralidade da parte de quem eu não esperaria. Em que é que a ortografia altera a oralidade? Desde quando, na história da escrita, isso sucedeu? Desde quando se alfabetiza antes de aprender a falar? O seu raciocínio sobre “o acordo vai modificar a maneira de falar” peca por partir de um pressuposto que não se concretiza. Olha para a escrita do ponto de vista de alguém que já sabe escrever e que entende que, supostamente, o olhar para uma palavra, com uma imagem diferente daquela que tem gravada na memória, provoca uma alteração na pronúncia. Tal não está provado. Nem as duas mudanças ortográficas anteriores, nomeadamente a de 1945, o comprovam. Mas uma criança aprende a falar muito antes de chegar à escola e só então aprende a escrita e a leitura, não tem memória do que não aprendeu ainda e, a não ser que o professor ensine de forma errada, ela vai ler igual ao que diz. Mas o senhor dá exemplos e logo escolhe palavras que o contradizem de forma inequívoca: “óptico”. Me diga, em que é que uma palavra proparoxítona, que é obrigatoriamente acentuada, se altera “na maneira de falar” se lhe retiram a consoante muda? Em que é que “óptico” se pode dizer de maneira diferente se se passar a escrever “ótico”. Ninguém em Portugal pronuncia este “p”. O mesmo para “ótimo” e “óptimo”. Com “ato” sucede o mesmo. É uma palavra grave e o “a” em início de palavra é naturalmente “aberto” em português. A escrita não preexiste à oralidade, nem prevalece sobre ela como qualquer indivíduo invisual o pode facilmente confirmar.
Em Portugal só um grande jornal ainda não assumiu a nova ortografia: o “Público”. Os jornais populares e os esportivos, que são os que mais se vendem no país, já escrevem na nova ortografia. As empresas nas suas páginas na internet já o fizeram ou estão a fazê-lo, a escola em Portugal já adotou a nova ortografia em setembro de 2010 e os manuais escolares já respeitam a norma.
Os livros que estão sendo editados já adotaram a nova ortografia a não ser que o autor tenha ainda um comportamento “salafista” e determine o contrário. Têm até 31 de dezembro de 2015 para se refastelarem no seu conservadorismo. O Estado Português adotou a nova ortografia em 1 de janeiro de 2011 e é nessa norma que são redigidos todos os documentos oficiais e de trabalho.
E o Vocabulário Ortográfico Comum está, ao contrário da sua crença, a ser elaborado por quem foi mandatado para o fazer pelo Plano de Ação de Brasília: O Instituto Internacional da Língua Portuguesa. Está sendo trabalhado por todos os países da CPLP. É verdade que não ficou pronto ontem, mas, certamente, ficará na data prevista para a sua conclusão.
Sobre as palavras de Ubaldo, autor que muito aprecio como escritor, volto a referir, o Acordo é ortográfico, não é, nem sobre prosódia, semântica ou limitação da variedade lexical. Nada tem que ver, com pronúncia, significado (me dê um exemplo de uma palavra que tenha significado diferente em Barcelos, no Piauí ou em Benguela e que por via disso se escreva diferente. Só uma) ou sobre nomes diferentes para a mesma coisa. Abacaxi e ananás são palavras diferentes não se podem dizer da mesma maneira, não é?
Ubaldo é um excelente escritor de língua portuguesa. Deve continuar escrevendo e falando daquilo que sabe melhor. Assim ninguém precisa de saber que escritor também fala sem pensar sobre assuntos que não domina, só porque não resiste à atração do microfone.
O Brasil tem o seu Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e Portugal também tem o seu. Para o Comum já só faltam 6. E vêm a caminho”.
Gostarias de lançar uma questão… pegando naquilo que eu, pessoalmente, considero um desacordo ortográfico e pergunto… o d de desportivo (falando em português) é mudo, também desapareceu, ou esportivo é mais uma das muitas “oferendas” ao português do Brasil?
Altera Pois: eu sou Português e digo “óPtico”. Digo o “P” sim senhor. E se o autor destas linhas não o diz é porque não sabe falar Português.
Seria tão bom que a questão fosse simples assim. Acontece que é Portugal existem três vocabulários. Isso mesmo! O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora (2009); o Vocabulário Ortográfico Português, do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (2010); e o Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa (2012).
Enquanto o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da academia Brasileira de Letras (2009), foi feito sem que os especialistas brasileiro fossem consultados. No caso, seriam os membros da Academia Brasileira de Filologia , com seu 40 membros, todos especialistas.