O secretário executivo da CPLP admitiu , na tarde de ontem (29/03) à agência Lusa que o instituto que promove o idioma de Camões, com sede em Cabo Verde, está com “muitas dificuldades” financeiras e burocráticas devido ao Brasil.
Murade Murargy falava à agência Lusa na Cidade da Praia momentos depois de chegar a Cabo Verde, oriundo da Guiné-Bissau, para uma visita oficial de três dias a convite do primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, e aludia à situação de impasse em que vive o Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP).
“O IILP está com muitas dificuldades, sobretudo financeiras e burocráticas. Um dos maiores contribuintes, o Brasil, ainda não pagou a sua contribuição e não aprovou o orçamento, deixando o instituto num sufoco financeiro”, disse, lembrando que a maioria dos restantes membros da CPLP já cumpriu com as obrigações financeiras.
A questão é uma das que o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) vai analisar com o diretor executivo do IILP, Gilvan de Oliveira, numa reunião agendada para terça-feira na sede da instituição.
Murargy, cuja visita oficial a Cabo Verde começa na segunda-feira, indicou à Lusa que, na Cidade da Praia, irá analisar com as autoridades cabo-verdianas vários aspetos ligados à atividade da organização, cujo objetivo, defendeu, deve ser repensado, bem como os relacionados com a crise político-militar na Guiné-Bissau e a adesão da Guiné Equatorial à CPLP.
Sobre a adesão da Guiné Equatorial, Murargy referiu que esteve recentemente em Malabo, onde conversou com as autoridades locais sobre a proposta, lembrando que, aos poucos, a Guiné Equatorial está a cumprir o estabelecido, dando como exemplo a oficialização da Língua Portuguesa e a abertura de uma embaixada em Lisboa.
A Guiné Equatorial, cujo Parlamento foi dissolvido na semana passada, vai realizar eleições legislativas em Maio próximo, pelo que o assunto voltará a ser abordado na reunião de Julho do Conselho de Ministros da CPLP, em Maputo, acrescentou, sem avançar mais pormenores sobre o estado do processo de adesão.
O moçambicano que substituiu à frente da CPLP o guineense Domingos Simões Pereira em 2012, questionado pela Lusa sobre a situação na Guiné-Bissau, onde esteve nos últimos dias, admitiu tratar-se de um processo “difícil e complexo”, embora se esteja a caminhar para a conclusão de um Pacto de Regime e de um Roteiro de Paz.
“Reuni-me com as autoridades guineenses e com muitas personalidades locais e começou-se a trabalhar para o Pacto de Regime e para o Roteiro de Paz, para que haja um futuro Governo inclusivo para preparar as eleições” previstas para antes do final do ano, sublinhou Murargy.
Sobre a ida a Cabo Verde, que surgiu a convite do chefe do executivo cabo-verdiano, Murargy salientou ser a primeira vez que está no arquipélago e que pretende refletir com as autoridades locais o futuro da CPLP, para que a organização “não fique colada” à imagem de mais uma instituição internacional.
Indicando tratar-se de uma ideia que surgiu numa conversa recente com o chefe da diplomacia cabo-verdiana, Jorge Borges, o secretário executivo da CPLP salientou a importância de Cabo Verde na reflexão, pois trata-se de um país “com um bom prestígio internacional”, já de rendimento médio e com uma “boa governação”.
Na Cidade da Praia, de onde parte para Lisboa na noite de 5 de Abril, Murargy será recebido em audiências pelo Chefe de Estado, Jorge Carlos Fonseca, o presidente do Parlamento, Basílio Ramos, e o primeiro-ministro, José Maria Neves, proferindo, no último dia, uma palestra subordinada ao tema “Repensar a CPLP”.
Durante a estada no arquipélago, o secretário executivo da CPLP terá também encontros de trabalho com Jorge Borges e com as ministras cabo-verdianas da Educação e Desporto, Fernanda Marques, e Desenvolvimento Rural, Eva Ortet, para analisar a questão da segurança alimentar e nutricional, “transversal à saúde e educação”.
No programa oficial estão ainda previstas visitas à Fundação Amílcar Cabral, presidida pelo ex-Chefe de Estado cabo-verdiano Pedro Pires e com sede na Cidade da Praia, e ao Centro de Formação Médica Especializada (CFME-CPLP).
A 4 e 5 de Abril, já fora da esfera oficial, Murargy participa, ainda na Cidade da Praia, na Conferência Luso-Francófona de Saúde (COLUFRAS), que congrega um crescente número de instituições, associações e profissionais da saúde dos países francófonos e lusófonos, principalmente do Brasil e do Canadá.
Fonte: https://www.dnoticias.pt