LUIS GONÇALVES E O ENSINO DE PLE NOS EUA.

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Em entrevista concedida ao blogue do IILP, o professor  Luis Gonçalves*, da universidade de Princeton, Nova Jersey,  fala sobre alguns projetos inovadores que estão promovendo a internacionalização do português. Aponta os princípios gerais que guiam sua metodologia utilizada no ensino de PLE e apresenta  um trabalho que está em curso e que pretende promover a […]

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Em entrevista concedida ao blogue do IILP, o professor  Luis Gonçalves*, da universidade de Princeton, Nova Jersey,  fala sobre alguns projetos inovadores que estão promovendo a internacionalização do português. Aponta os princípios gerais que guiam sua metodologia utilizada no ensino de PLE e apresenta  um trabalho que está em curso e que pretende promover a Literatura Luso-Americana na comunidade portuguesa.

1. O Nosso idioma vem conquistando cada vez mais espaço no cenário internacional e firmando-se como uma língua importante. Quais os princípios e estratégias vem sendo utilizadas para o ensino/aprendizado de PLE dentro da comunidade americana?

O português está em alta nos EUA desde o final dos anos 80. Tem havido muitas iniciativas para responder a essa demanda. Recentemente, uma das mais importantes foi a elaboração de um manual de PLE, feito nos EUA por uma grande equipa de profissionais de referência na área. Isto foi fundamental porque nos faltava um método atualizado e informado pelas mais recentes pesquisas em aquisição de segunda língua e metodologia de língua estrangeiras, em que os EUA têm uma longa tradição. Também a AOTP – Organização Americana de Professores de Português (www.aotpsite.org), de que sou um dos diretores, tem organizado anualmente um Encontro Mundial Sobre o Ensino de Português (www.emepsite.com) que permite aos professores que trabalham nos EUA entrar em contacto com professores de outras partes do mundo para discutir estratégias e metodologias de ensino, apresentar material pedagógico novo, participar em oficinas de trabalho e criar uma rede de relações que facilitem a colaboração em projetos pedagógicos e de pesquisa entre esses profissionais. Um outro fenómeno que tem ocorrido é a internacionalização dos programas de português, criando oportunidades para os alunos interagirem com falantes nativos, iniciando programas de verão, sobretudo no Brasil e programas de intercâmbio que permitem aos alunos norte-americanos passar um semestre ou um ano numa universidade de um dos países de língua portuguesa. Um excelente exemplo disto é o trabalho do programa de português da Universidade da Georgia, que ganhou a primeira bolsa para português da The Language Flagship e que rapidamente se transformou num modelo a seguir em termos do que existe de mais atualizado no que diz respeito à conceção de um programa de português para estrangeiros e em termos dos mais bem fundamentados paradigmas de ensino de línguas estrangeiras.

Um outro claro sinal da importância de aprender português nos EUA é o trabalho do Conselho Nacional de Línguas Menos Ensinadas (NCOLCTL – National Council Of Less Commonly Taught Languages) que identificou a falta de professores formados como um dos maiores obstáculos à expansão do português nos EUA, e tem disponibilizado os seus recursos para o desenvolvimento profissional de professores. Em 2011, foi estabelecido o primeiro programa de formação, conhecido como o programa STARTALK, na Boston University, liderado pela professora Célia Bianconi. Este programa tem tido muito êxito, e junta professores de português com as mais variadas origens, formações, contextos de ensinos e anos de experiência para trabalharem uma série de tópicos específicos que na sua totalidade apresentam os princípios básicos para o sucesso no ensino de uma língua estrangeira.

Todos estes indícios, a produção de material pedagógico atualizado, ainda que não suficiente, os eventos profissionais, a criação de programas modelo e a formação profissional são exemplos de iniciativas concretas que têm contribuido para a expansão do PLE nos EUA.

2. O senhor poderia contar-nos um pouco da sua experiência no ensino do português para alunos de outros idiomas, na Universidade Princeton e quais as técnicas didáticas, frutos de sua pesquisa como educador, que utiliza?

Ensino português para estrangeiros nos EUA desde 1997 e a minha metodologia de ensino depende do grupo que tenha pela frente e dos objetivos específicos de cada aluno ao aprender a nossa língua. No entanto, há alguns princípios gerais que guiam a minha prática pedagógica: tento usar o máximo de documentos reais para criar unidades pedagógicas organizadas em pré-atividades, que dão aos alunos as ferramentas linguísticas que precisa para completar com sucesso uma atividade principal, e que é seguido de pós-atividades, em que os alunos têm a possibilidade de verificar e expandir o conhecimento adquirido. Nas minhas aulas, dou prioridade a atividades que impliquem um processamento cognitivo e relego para segundo plano atividades baseadas em memória e reconhecimento. O meu objetivo é que os alunos adquiram competências comunicativas o mais rápido e eficazmente possível, o que implica adquirir quatro competências: a competência gramatical, os alunos trabalham em casa através de atividades e projetos que têm que completar antes de virem para as aulas; nas aulas trabalhamos a competência discursiva (é preciso conseguir usar o conhecimento gramatical para produzir um discurso significativo), a competência sociolinguística (os alunos têm que conseguir adequar o seu discurso a diferentes contextos comunicativos), e a competência estratégica (quando a comunicação falha, os alunos têm que saber utilizar estratégias para reatar a comunicação). Nas minhas aulas, crio as condições para os alunos poderem exercitar estas habilidades.

No caso específico da Princeton, a maioria dos alunos que estudam português são falantes de espanhol, o que nos permite avançar com muita rapidez no momento inicial, uma vez que conhecer o funcionamento de uma língua neolatina permite rapidamente alcançar um nível intermédio de proficiência em português, mas posteriormente, requer estratégias próprias para este tipo de alunos conseguir chegar a níveis mais avançados, devido às interferências do outro idioma.

3. O IILP lançou agora na II Conferência o Portal do Professor de Português Língua Estrangeira .  Qual sua percepção sobre essas novas  ferramentas digitais com relação ao aprimoramento e expansão do ensino do português? 

Faço parte de uma comunidade online que se chama Fale Português (https://faleportugues.ning.com) e também mantenho um grupo no Facebook que se chama “Ensinar Português Como Segunda Língua”. Os dois têm mais de 4000 membros espalhados pelo mundo que ativamente partilham um pouco de tudo, desde as suas conquistas até os seus maiores desafios. O Portal do Professor de Português Língua Estrangeira responde a um dos desafios citados mais frequentemente que é a falta de material atualizado para trabalhar com os alunos. A forma como o portal foi concebido, por um lado, permite fazer uso das atividades tanto online quanto offline, por outro, permite utilizar o material pedagógico tanto no computador/projetor quanto imprimir em papel. É importante haver estas possibilidades e o professor poder transferir o material disponível para outros suportes, porque nem todos os profissionais de PLE têm a comodidade que ter uma ligação à internet na sala de aula e outros ensinam em contextos onde usar o computador/projetor não é viável, e para tudo isto é preciso ter alternativas. Além disso, as atividades estão ainda estruturadas à volta de documentos reais de todos os países de língua portuguesa (alguns ainda não disponibilizaram a sua parte, mas deve acontecer em breve) o que responde a uma outra questão, que é a falta de conhecimento e de interação por parte de muitos professores sobre o que se passa em outros países de língua portuguesa, que não o seu. Finalmente, a possibilidade de escolher as atividades por nível de proficiência na língua é um indicador que ajudará os professores a guiar a sua atividade (apesar de, na minha opinião, ser necessário trabalhar um pouco mais no estabelecimento dos níveis e de descritores credíveis, baseados em standards científicos internacionais), além da possibilidade fantástica de se poder criar roteiros temáticos alimentados por atividades produzidas em todos os países de língua portuguesa. Isto vai permitir a qualquer professor de PLE trazer para a aula uma abordagem multicultural e trabalhar, de forma muito concreta, a língua portuguesa na sua verdadeira dimensão internacional. Isto era possível anteriormente, mas requeria da parte do professor um investimento de tempo e recursos que muitos não estavam dispostos a fazer e neste momento, através do portal, a possibilidade está ali disponível em minutos.

4. Qual a proposta do projeto “Writers of the Portuguese Diaspora in the United States and Canada: An Anthology” lançado pelo senhor em conjunto com Carlo Matos, professor na Universidade de Chicago, em junho passado e como ele foi recebido pela comunidade luso-americana?

Desde há alguns anos que trabalho com um grupo de jovens escritores lusodescendentes nos Estados Unidos. A maior parte é de segunda ou terceira geração, alguns já não falam em muitos não escrevem em português – em muitos casos, resultado trágico dos mitos contra o bilinguismo que dominaram as populações imigrantes neste país. No entanto, estes jovens escritores têm uma forte identidade Luso-Americana, contam as histórias da nossa diáspora e das nossas vivências, das lutas e conquistas por estas terras. Há um caráter muito específico a esta literatura e temos organizado eventos e levando estas narrativas a dois tipos de espaços: por um lado, tertúlias e leituras nas comunidades portuguesas espalhadas nos EUA, que se encontram principalmente na Nova Inglaterra, em New York e New Jersey, e na Califórnia; e por outro, apresentações em grandes eventos nacionais, como na Conferência da American Portuguese Studies Association e na Conferência da Associação de Escritores e de Programas de Escrita. O objetivo é, não só promover a Literatura Luso-Americana na comunidade portuguesa, mas também ligá-la à tradição literária norte-americana, como parte integrante da narrativa dos Estados Unidos e acessível à população em geral, tanto em termos de língua quanto de disponibilidade comercial. Esta antologia, “Writers of the Portuguese Diaspora in the United States and Canada: An Anthology”, que o professor/escritor Carlo Matos e eu estamos a organizar, insere-se neste trabalho e inclui ainda escritores do Canadá, porque a nossa diáspora nos dois países seguiu, mais ou menos, as mesmas vagas vindas também dos mesmos espaços geográficos. Quando mandámos a chamada para contribuições através das redes sociais e dos nossos contactos, nunca imaginámos que fosse ter a repercussão de teve, tanto nos Estados Unidos quanto no Canadá. Conseguimos reunir trabalhos de praticamente todos os grandes nomes da Literatura Luso-Americana e Luso-Canadiana e também de um número significativo de jovens escritores lusodescendentes nos dois países, e o resultado final é uma coleção de que temos muito orgulho. Esta antologia ainda não foi publicada. O manuscrito está quase pronto, e está a ser aguardado, com muito interesse e entusiasmo, por uma editora. Esperamos que saia em 2014.

*Luis Gonçalves ensina português na Princeton University, Nova Jersey. Tem doutoramento em Línguas Românicas, com especialização em Estudos da Comunicação e certificação em Estudos Culturais, pela Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. Publicou artigos especializados e tem dado ações de formação a professores de português como língua estrangeira e organizado conferências e painéis sobre o ensino de PLE e Culturas Lusófonas em Portugal, Brasil e EUA. Recebeu o 2010 Award for University Professor of Portuguese dado pela Universidade dos Açores e pelo Portuguese World Language Institute at Lesley University, MA



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