Petróleo vai posicionar a língua portuguesa na geopolítica mundial.

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Ferreira de Oliveira, CEO da Galp Energia, disse que acredita que o petróleo do Brasil e o gás de Moçambique vão mudar a percepção que o mundo tem da CPLP. A sua companhia está nos dois palcos e se para já é tempo de investir, depois de 2017 a operação no pré-sal do Brasil começará […]

imagem12Ferreira de Oliveira, CEO da Galp Energia, disse que acredita que o petróleo do Brasil e o gás de Moçambique vão mudar a percepção que o mundo tem da CPLP. A sua companhia está nos dois palcos e se para já é tempo de investir, depois de 2017 a operação no pré-sal do Brasil começará a libertar dinheiro.

Manuel Ferreira de Oliveira é um engenheiro doutorado que tanto reflecte com naturalidade sobre as finanças da empresa como sobre as ciências da exploração petrolífera. Numa entrevista por telefone a partir de Maputo, fala sobre as certezas do pré-sal brasileiro e sobre as suas amplas perspectivas. Em 2020, a Galp espera produzir 300 mil barris de petróleo por dia, 80% dos quais no Brasil. A seguir , leia a entrevista feita pelo jornalista Manuel Carvalho, do Público PT economia,  edição online:

PÚBLICO – No ano passado a Galp Energia investiu 600 milhões na exploração de petróleo no Brasil. Quando é que um investimento desta envergadura começará a ser remunerado?
Manuel Ferreira de Oliveira – A Galp Energia tem projectos que são desenvolvidos em termos modulares. Um módulo produz entre 120 a 150 mil barris por dia e o investimento que lhe está associado custa à volta de quatro mil milhões de dólares para estar em produção. A Galp Energia, neste momento, está envolvida em projectos de desenvolvimento em dez destas unidades naquilo a que chamamos o pré-sal da bacia de Santos. E todas essas unidades, que ocorrem principalmente nos campos Lula e no campo Iara, estarão em produção em 2017.

PÚBLICO – Será após 2017 que a taxa de investimento começará a baixar e terá início a libertação de recursos?
Quando estamos a construir um projecto, ele não remunera o capital – é o que chamamos imobilizado em curso. Mas à medida que começa a produção, começa a remuneração do capital investido. Nós nas operações que temos no Brasil teremos o primeiro ano de free cash-flow (quando a libertação de recursos é pelo menos igual ao volume de investimento) positivo, se tudo correr conforme os nossos planos, em 2017.

PÚBLICO – Mantém como objectivo os 300 mil barris diários de produção para 2020?
Sim, para o grupo todo. Entre 70 e 80% dessa produção virá do Brasil, depende como vão correr os projectos nos outros sítios. Mas o Brasil é claramente em 2020 a âncora da empresa.

PÚBLICO – Continua confiante no potencial das jazidas do pré-sal? Acredita que a sete mil metros de profundidade existirão reservas de 90 mil milhões de barris?
Essas coisas não são de acreditar ou de não acreditar. É de ter evidência científica e técnica de que existe ou não existe. Há estudos muito conceptuais de natureza geológica que se fazem para perceber o potencial de uma região a que nós chamamos bacias sedimentares. Esse é o potencial teórico. Quando esse potencial é atractivo, as empresas decidem investir para verificar se ele existe de facto. Umas vezes temos surpresas positivas, outras vezes negativas, uma vez que a mãe-terra nem sempre é clara na sua linguagem. O que nós temos hoje, a grande descoberta que pôs o pré-sal brasileiro nas bocas do mundo, foi o campo Lula. Foi dito com fundamento geológico que teria reservas de cinco a oito mil milhões de barris de petróleo recuperável. Hoje não temos dúvida que vamos extrair desse reservatório entre 10 e 12 mil milhões de barris. Ou seja, a realidade superou as expectativas criadas pelos estudos de base geológica.

PÚBLICO – Como está a correr a parceria com os chineses da Sinopec?
Nós trabalhamos com a Sinopec, entre o processo negocial e as operações no dia-a-dia já vão quase dois anos. A Sinopec não é nossa accionista, é nossa parceira. Há uma grande diferença entre outras relações constituídas no nosso país. Uma coisa é uma empresa que tem como accionista uma empresa chinesa, onde, de certa forma, há uma relação hierárquica entre a empresa e o accionista, outra coisa é uma relação de parceria.

PÚBLICO – Mas a Sinopec não tem 30% do capital da Petrogal Brasil?
O que nós fizemos no Brasil foi uma emissão de acções novas, uma operação de aumento de capital. Essa operação podia ter sido feita na bolsa, e esse era o nosso caso base. Nós precisávamos de levantar recursos no mercado. O cash-flow das outras operações não permitia que financiássemos o gigantismo dos investimentos que tínhamos pela frente. Teríamos de aumentar o capital. Então organizámos um processo competitivo internacional e a empresa que pagou mais por cada acção foi a Sinopec. Nós somos o accionista controlador da Petrogal Brasil.

PÚBLICO – O músculo financeiro da Sinopec é confortável para uma empresa que, como a Petrogal Brasil, tem à sua frente um pesadíssimo caderno de encargos?
A Sinopec tem músculo financeiro, mas o dinheiro é deles, não é nosso. A Galp Energia está totalmente preparada para os investimentos que nos levam no Brasil a um contexto de free cash-flow positivo. Nós temos todo o capital no nosso balanço que nos leva a esse contexto. Não precisamos de pôr mais capital no Brasil.

PÚBLICO – Sendo o presidente de uma empresa pioneira no pré-sal do Brasil, ficou com pena por não ter avançado na concessão do campo de Libra?
Nós estudamos com muito detalhe o projecto Libra e gostamos do projecto Libra. Foram criadas todas as condições para lá podermos estar, mas na Galp temos uma cultura que eu subscrevo: as empresas, como as pessoas, não podem dar passos maiores do que as suas pernas. Libra é um projecto gigantesco, do tamanho de Lula, e no nosso balanço havia uma sobreposição no tempo desse investimento com o que temos de fazer em Moçambique, que também é ‘giga’. Portanto, não por razões técnicas, mas por razões de respeito para com o nosso balanço, entendemos que não podíamos fazê-lo.

PÚBLICO – No horizonte de uma década o Brasil continuará a ser a principal prioridade da Galp Energia, ou essa prioridade poderá ser deslocada para Angola ou, mais provavelmente, para Moçambique?
Nos países da lusofonia, especificamente em Angola, Moçambique e Brasil, desde 2006 até hoje, ocorreram 26% de todas as novas descobertas de petróleo e gás. E das descobertas no mar profundo, 52%. A taxa de crescimento desta actividade vai ser explosiva. Não tenho dúvida que, nesta década em que estamos a viver, vai posicionar a CPLP em termos geopolíticos no mundo. Moçambique tem hoje em desenvolvimento o maior projecto de gás do mundo e o Brasil o maior projecto de petróleo do mundo. Estar nestes dois projectos é um privilégio enorme e uma responsabilidade gigantesca.

Fonte: Público PT Economia
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