“Seria de facto de grande importância, de grande utilidade, utilizar os meios disponíveis na CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] para melhor aperfeiçoar a língua portuguesa”, afirmou Hernâni Coelho, em entrevista à agência Lusa.
Coelho, que tomou posse a 16 de fevereiro com o novo Governo timorense, recordou que em Timor-Leste o Governo já conseguiu ampliar significativamente a rede escolar, mas que ainda se debate com grandes dificuldades no ensino do português, que esteve interrompido durante 25 anos.
“Isso criou lacunas e um ‘gap’ entre gerações em termos do seu conhecimento da língua portuguesa. Em Timor, desde 1974 até 2000 praticamente não tivemos ensino regular do português”, disse.
O país, recordou, vive uma situação em que há timorenses que “falavam algum português em 1974, os que cresceram depois da invasão, que percebem o português, mas não o usam e a nova geração depois de 2002 onde a restituição da língua portuguesa está a ser mais sistemática e formal”.
Timor-Leste, disse, precisa de encontrar uma maneira de poder “resolver ou pelo menos aliviar os impactos negativos do processo de transição” que ainda está em curso.
“E nisso a CPLP pode ter um papel. Temos o Instituto de Língua Portuguesa, por exemplo. Temos que ver como aproveitamos este espaço como base para nos podermos ajudar em áreas em que uns membros estão a viver uma situação mais difícil”, disse.
“Em Timor estamos um bocado mais atrasados em comparação com os outros, nos termos da perfeição e utilização do português. Mas temos outros países, como a Guiné-Bissau, onde há dificuldades nas políticas sociais e os membros da CPLP devem também ter algum papel”, considerou.
Vale recordar que em março de 2014, concluiu-se com sucesso o trabalho realizado pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa – IILP, a convite do Governo de Timor-Leste, para o desenvolvimento de Unidades Didáticas do Portal do Professor de Português Língua Estrangeira/Língua Não Materna (PPPLE).
A produção dos materiais timorenses foi desenvolvida por um conjunto de professores especialistas da área de português do Departamento de Língua Portuguesa da Universidade Nacional de Timor-Leste e do Instituto de Formação de Docentes e Profissionais da Educação (INFORDEPE).
De acordo com os depoimentos dos professores envolvidos no trabalho, essa tem sido uma oportunidade muito importante para que os profissionais da educação em Timor-Leste, sobretudo os envolvidos no ensino de Língua Portuguesa, possam elaborar os seus próprios materiais e disponibilizá-los, on-line, a qualquer professor de língua portuguesa, em variadas partes do mundo.
As Unidades Didáticas timorenses já estão disponíveis no PPPLE, refletindo os resultados da missão realizada em Timor-Leste e reforçando a importância do projeto do IILP para a construção de uma gestão partilhada e multilateral da língua portuguesa.