De 14 a 29 de novembro do corrente ano, cinco países – Moçambique, Angola, Portugal, Cabo Verde e Brasil, nações que possuem em comum bem mais que o mesmo idioma, estarão se apresentando no Festival de Teatro Lusófono no Sesc- Bom Retiro, em São Paulo.
Direto da África, a obra Olímias, do escritor angolano Adriano Botelho de Vasconcelos, ganha montagem pela Companhia Dadaísmo de Teatro. Nela, a infidelidade de um pai amaldiçoa os três filhos. O castigo do homem será assistir à destruição de sua família, sem poder fazer nada. “Na maioria das vezes, só conhecemos as obras portuguesas que nos definiram enquanto país colonizado.”
Outro representante africano, Cinzas Sobre as Mãos, traz de Moçambique o lugar de um conflito crise político-militar. A peça mostra dois coveiros cumprindo o trabalho de recolher e enterrar as vítimas da guerra. Um dia, eles encontram uma sobrevivente e, com medo de serem acusados de colaborar com o inimigo, transformam a mulher em escrava.
E, para representar o Brasil, a atriz Arieta Correia encontra a poesia da portuguesa Florbela Espanca (1894-1930), obra que conheceu em uma viagem pelo país. “Apesar de ser curta, a vida de Florbela foi muito tumultuada”, conta. Em 1907, a menina escreveu seu primeiro conto em homenagem à mãe, Antonia da Conceição Lobo. No ano seguinte, a mulher falece. Anos mais tarde, foi a vez do irmão, Apeles Espanca, que morreu em um acidente de avião. “Florbela dizia que ele era o amor da vida dela. Até acusaram de incesto, mas era apenas uma relação fraternal.”
Após os trágicos acontecimentos, e duas tentativas de suicídio, Florbela é diagnosticada com edema pulmonar e se mata em 8 de dezembro, no mesmo dia em que completava 36 anos. “Seus textos falam de um mundo violento, que pode machucar as pessoas. Ela transformou essa dor, transformou-a em arte.”
Sua obra mais importante se chama Charneca em Flor, publicada postumamente, em 1931. O livro é composto por sonetos que também homenageiam sua terra natal. “Ela é muito estudada e respeitada nas universidades de Portugal. Como todo artista, Florbela foi uma inconformista. Levava uma vida boêmia e era chamada de prostituta por sair com diversos homens. Mas nada abalou sua poesia. Ela amava o amor”, conta Arieta.
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