CONHEÇA MALACA, A CIDADE MALAIA ONDE (AINDA) SE FALA PORTUGUÊS

Notícia

Mesmo 375 anos depois de terem sido ‘enxotados’ pelos holandeses da cidade de Malaca, no Sul da Malásia, os portugueses ainda mantém raízes, monumentos e costumes na terra que dominaram por 130 anos (1511-1641) e que hoje é patrimônio da humanidade, segundo a Unesco. Um dos principais traços da presença lusitana – além da fortaleza […]

Mesmo 375 anos depois de terem sido ‘enxotados’ pelos holandeses da cidade de Malaca, no Sul da Malásia, os portugueses ainda mantém raízes, monumentos e costumes na terra que dominaram por 130 anos (1511-1641) e que hoje é patrimônio da humanidade, segundo a Unesco.

Um dos principais traços da presença lusitana – além da fortaleza ‘A Famosa’, cartão postal da cidade – é a língua portuguesa, ainda falada por cerca de 1.000 moradores; a maioria, porém, na faixa dos  50 anos ou mais, o que coloca em risco a  perpetuação do idioma, que sequer é ensinado nas escolas.

Boa parte dos falantes da língua portuguesa, chamada pelos malaquenses de “Papia Kristang” (língua cristã), se concentra no bairro, ora pois, português, é claro. A vizinhança é ponto turístico obrigatório  para entender a formação de Malaca.

Dando cumprimento às ordens do Rei Manuel I, foi construída uma fortificação em posição dominante no alto de um monte (com função principal de defesa), onde antes se erguia a mesquita da cidade. Ela ficou para a história como ‘A Famosa’, hoje um dos principais cartões postais de Malaca, ao lado da Porta de Santiago.

A ocupação de Portugal em solo malaio – que se somava ao domínio de outras localidades importantes da época como Macau e Goa, na Índia – começou vigorosa e prometia render frutos ao monarca de então, rei Manuel I. Mas não foi bem isso que aconteceu.

A conquista da cidade, em 1511, até animou o reino lusitano. Méritos ao vice-rei da Índia Portuguesa, Afonso Albuquerque, que comandou 1.100 homens (900 de Portugal e 200 mercenários hindus) e avançou, com 17 navios, para capturar o território botando pra correr o sultão Mahmud Shah, que chegou a usar centenas de elefantes como armas de batalha.

Estava aberto o caminho para que Portugal intensificasse o comércio com aquela parte do mundo (especialmente com a China), uma vez que o porto local, localizado no Estreito de Malaca, entre os oceanos Índico e Pacífico, era um dos mais importantes do planeta no raiar do século 16.

O período de administração portuguesa, porém, foi tumultuado e não trouxe os resultados esperados. Para piorar, durante boa parte do tempo, as atenções ficaram mais voltadas à defesa do território do que a ao desenvolvimento e expansão das operações comerciais. Em 130 anos, foram inúmeros os ataques perpetrados pela linha sucessória do sultão Shah.

A pá de cal nas pretensões lusas foi aproximação entre os holandeses e sultões de outras regiões da Malásia, como Johor. A união de forças acabou suplantando as esquadras de nossos patrícios. Iniciou-se, assim, o período de dominação holandesa em Malaca – que vingou até 1795, quando os ingleses ocuparam a área.

Papeando em Kristang

Edward Keneddy parece jamaicano, mas garante que é 50% indiano e 50% português.

Mas, voltando ao bom e velho idioma de Camões, ele está, sim, presente na Malaca contemporânea. Ele se concentra no bairro português, habitado por quase 1,7 mil pessoas, mas você também o encontra aqui e ali ao longo da cidade de 875 mil habitantes. É o caso do De Reggae Café&Craft, de propriedade de Edward Keneddy, que se diz metade indiano, metade português, e é casado com Patrícia, meio holandesa, meio portuguesa. A botica, como o dono a chama, fica no coração do centro histórico de Malaca e estampa um Bob Marley gigante na entrada. Edward, ou Eduardo, mostra orgulhoso aos visitantes um livro editado por ele, reunindo a história portuguesa na cidade e dicas da comunicação nativa. “Temos que tentar manter a língua viva, passando o que sabemos para os jovens’, diz – mesclando o português malaco com algumas palavras em inglês, idioma falado por muitos moradores.

O apelo de Edward ecoa entre outros defensores do português malaco, que se reúnem todas as segundas-feiras à noite para não deixar o Kristang morrer. Entre rodadas de chá e café, e bastante cigarro, eles trocam o inglês e o malaio do dia-a-dia (utilizado para se comunicar com os demais moradores da cidade) pelo crioulo português. Inicialmente, para nós, brasileiros, é difícil captar determinadas mensagens, pois, apesar de semelhante, há palavras com pronúncia diferente e até mesmo sentido diferente do conhecido por nós. Por exemplo, banana é figo.

Reuniões semanais mobilizam um modesto grupo de malaios de origem portuguesa que tentam manter a língua Kristang viva.

O dono da casa em que acontecem as reuniões, Francisco da Silva (quer nome mais português do que esse?), porém, é cético quanto ao futuro da língua. “Só falamos o Kristang até hoje por que temos a convivência aqui do bairro.  Fora daqui é muito difícil. Pode escrever, em 20 anos, a língua vai acabar aqui também por que os jovens que estudam e querem oportunidades acabam indo embora”, diz em tom de lamento para em seguida dar mais uma pitada em seu fumança (cigarro).

Enquanto o português malaco respira por aparelhos, segue um breve glossário de expressões faladas por lá:

Aula básica de Papia Kristang, o português de Malaca:

Beng vindo (Bem-vindo)

Bong dia (Bom dia)

Bong anoti (Boa noite)

Klai teng, Senhor? (Como você está, Senhor?)

Yo teng bom. Muito merce (Estou bem. Muito obrigado)

Ondi ta bi? (Onde você vai?)

Yo ta bai bazar compra pesi kon karni (Vou ao mercado comprar peixe e carne)

Yo ta bai drumi (Eu vou dormir)

Santa na kadera (Senta na cadeira)

Impe (Fica em pé, ou, levanta)

Tomar resto (Descansar)

Papiar (Conversar)

Pelado (Careca)

Yo ta bai sibrisu (Estou indo para o trabalho)


Fonte: Super Interessante
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3 respostas

  1. VISITEI MALACA HÁ 30 ANOS E APESAR DE ME LEVAREM A FALAR COM AQUELES QUE DIZIAM FALAR PORTUGUES, O ENTENDIMENTO DO NOSSO IDIOMA JÁ ERA MUITO DIFÍCIL. PODÍAMOS COMPREENDER ALGUMAS PALAVRAS ISOLADAS, MAS DIFICILMENTE PODIAMOS MANTER UMA CONVERSA. NO ENTANTO, DEVE DIZER-SE QUE O BAIRRO ERA “BEM PORTUGUES”. OS NOMES DAS LOJAS, DOS RESTAURANTES, DOS BARES, PELO GERAL SAO BEM PORTUGUESES E NA PRACA PRINCIPAL HAVIA UMA ESTÁTUA DA VIRGEM DE FÁTIMA MESMO AO MEIO! É UMA PENA QUE NAO SE DE A IMPORTANCIA DEVIDA A ESTE NÚCLEO DE GENTE QUE CONTINUA A DIZER – CONTRA TUDO E CONTRA TODOS – QUE É DESCENDENTE DE PORTUGUESES. CARLOS BOTO (Desculpem a falta de acentos, de tiles e de cedilhas, nao os tenho na computadora).

    1. Exactamente o mesmo se passou comigo na minha passagem pela Malásia no ano de 2006. Como não podia deixar de ser, visitei o Bairro Português em Malaca, almoçando no “Restaurante Lisboa”. Ali contactei com um dos “portugueses” mais idosos, que falava ainda “o português antigo”, pois a comunicação com os restantes teria de ser numa mistura de “português” e inglês.
      Já aqui escrevi algumas vezes sobre este assunto, responsabilizando os Governos de Portugal, pelo abandono em todos os aspectos, a que sujeitaram esse povo, mais digno e patriota, do que muitos que hoje na Europa se dizem portugueses.

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