Disseminação do português em Timor-Leste requer soluções mais criativas

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Os esforços da disseminação do português em Timor-Leste debatem-se com a discrepância entre o “querer fazer e a capacidade de fazer”, exigindo-se soluções mais criativas para o problema, disse à Lusa o primeiro-ministro timorense. “Todos querem que a língua portuguesa seja disseminada para todo o país e não são só os líderes. Se falarmos com […]

escola em timor

Os esforços da disseminação do português em Timor-Leste debatem-se com a discrepância entre o “querer fazer e a capacidade de fazer”, exigindo-se soluções mais criativas para o problema, disse à Lusa o primeiro-ministro timorense.

“Todos querem que a língua portuguesa seja disseminada para todo o país e não são só os líderes. Se falarmos com as famílias elas querem isso. Mas não temos capacidade para fazer isso”, disse Rui Maria de Araújo, numa entrevista à Lusa por ocasião do 2.º aniversário da sua tomada de posse, que se cumpre na quinta-feira.

Rui Araújo referiu que só as 13 escolas de referência do país (CAFE) – um centro escolar por município em que lecionam professores portugueses e timorenses – já causam “grandes problemas logísticos”, pelo que é necessário encontrar “formas mais criativas”.

Ainda que a quase totalidade dos líderes timorenses defenda o reforço do ensino do português, na prática as carências de recursos humanos e técnicos e as dificuldades do cenário plurilinguista em Timor-Leste atrapalham a aplicação prática deste objetivo.

O assunto continua a ser alvo de debates regulares, causando alguma tensão política e social e levando a que várias políticas sejam contestadas por setores da sociedade.

Rui Araújo defendeu um entendimento do Estado “no seu todo” sobre o tema, afirmando que “o português veio há séculos para ficar” mas “infelizmente não foi e não é uma língua falada e compreendida por todos os timorenses”.

“É preciso encontrar formas de conseguir essa ambição. Queremos fazer isso, mas a nossa capacidade está a ser muito limitada”, referiu, afirmando concordar com declarações recentes, em Díli, da secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (SENEC) portuguesa, Teresa Ribeiro, que defendeu uma revisão da cooperação nesta matéria.

“É preciso apostar mais na formação de professores em Timor-Leste ou em Portugal. Porque as nossas escolas públicas (…) não estão a ensinar em português e para o fazerem precisam de mais professores. Têm currículo em português, material em português, mas os professores usam o tétum para ensinar e não o português”, sublinhou Rui Araújo.

Teresa Ribeiro defendeu durante uma visita este mês a Díli que é necessário ser mais exigente nesta matéria face a Portugal, mas também a Timor-Leste, que nem sempre responde com “um compromisso claro” nesta matéria.

“Aquilo que notei e noto é que – embora os timorenses vejam um maior esforço e interesse na língua portuguesa -, eventualmente o trabalho que temos vindo a fazer, muitas vezes com enorme boa vontade, de alguma forma não tem do lado timorense um compromisso claro, tem de ser olhado de outro modo”, frisou.

O apoio ao setor educativo e em particular ao ensino do português é uma das principais linhas do programa alargado de cooperação bilateral de Portugal com Timor-Leste, destacando-se o apoio com cerca de 140 professores às escolas de referência, hoje conhecidas como Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE).

Rui Araújo considerou que apesar de tudo há sinais positivos, como o número crescente de jovens saídos do secundário que conseguem “expressar-se minimamente em português”.

Entre as “soluções criativas”, Rui Araújo admitiu ver “algum mérito” no recurso à polémica opção das línguas maternas, alternativa que pode vir a ser útil para dar “capacidade de literacia e numeracia às crianças” que ficam depois com “melhor abertura para a aprendizagem” das línguas oficiais, tétum e português.

Como exemplo dá o de uma criança que nasceu em Lospalos, na ponta leste do país e só fala fataluco, uma língua local: “como se ensina o abecedário em português se em família ninguém fala português”, questionou.

A alternativa, considerou o primeiro-ministro, é introduzir o abecedário usando o fataluco como língua de instrução “para melhor se entender o abecedário e os números” e só depois de entenderem isso “é que se introduz a língua, o ensino com o português e o tétum”.

O chefe do Governo considerou que os estudos levados a cabo sobre esta matéria em Timor-Leste “não conseguiram convencer” e que são precisos mais debates, que esta opção “não é uma aversão à língua portuguesa” e que pode sim ser uma alternativa “eficaz e eficiente”.

 

Fonte: Lusa

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