“Timor-Leste precisa de definir uma política clara da disseminação da língua portuguesa”

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O Presidente timorense disse  que Timor-Leste precisa de definir uma política clara da disseminação da língua portuguesa, reforçando significativamente o orçamento do setor da educação e evitando ações que “boicotam” essa política. “Em casa os meus filhos sabem que é proibido falar tétum, mesmo com os funcionários. Só se fala português. Sim, é difícil. Não […]

escola em timorO Presidente timorense disse  que Timor-Leste precisa de definir uma política clara da disseminação da língua portuguesa, reforçando significativamente o orçamento do setor da educação e evitando ações que “boicotam” essa política.

“Em casa os meus filhos sabem que é proibido falar tétum, mesmo com os funcionários. Só se fala português. Sim, é difícil. Não há nada fácil. Mas é preciso começar e temos que investir mais”, afirmou Taur Matan Ruak, numa palestra em Díli.

No último dia 4 de maio, o chefe de Estado timorense falava no auditório do Arquivo Museu da Resistência Timorense (AMRT), em Díli, numa palestra sobre “Timor-Leste, que futuro”, no âmbito das atividades organizadas pela Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), por ocasião da Semana da Língua Portuguesa.

Taur Matan Ruak disse que nas visitas que efetuou ao interior do país encontrou jovens do 5.º ano que não sabiam sequer como se dizia ‘nariz’ em português, e “em alguns casos nem sequer em tétum”, língua oficial do país a par do português.

“Estamos muito mal. Como é isto possível? Quem é que nos está a boicotar? Porque acham que os indonésios proibiram o português em Timor-Leste? Porque sabem que a língua tem uma função”, afirmou.

“Aqui até na televisão falamos indonésio. Acho que estamos todos um bocadinho perturbados. Temos que saber exatamente o que queremos. Já passaram 17 anos, daqui a seis são 24 depois da guerra. Em 24 anos os indonésios ensinaram 95% da população a falar indonésio. E nós em 17 ensinámos quantos a falar a língua oficial?”, questionou.

Para colmatar este problema, Taur Matan Ruak defendeu um aumento significativo na despesa pública em educação que em vários países da região varia entre 10 e 17% do Orçamento, mas em Timor-Leste ronda apenas os 6%, “apesar do país ter necessidades de desenvolvimento maiores”.

“O Estado está a investir mal. Os planos de desenvolvimento que tem sido parcialmente implementados apostam mais em infraestruturas do que nas pessoas. Isto tem que ser alterado rapidamente para responder aos desafios que enfrentamos”, considerou.

Taur Matan Ruak, que termina o mandato no próximo dia 20 de maio, disse que o futuro de Timor-Leste será, em parte, determinado pela “capacidade de generalização da língua portuguesa e da afirmação do país no espaço geopolítico da CPLP” [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], entre outros espaços geopolíticos.

Timor-Leste, recordou, tem hoje uma “cultura própria que é profundamente timorense mas que também é profundamente CPLP, com inúmeras características comuns com povos longínquos” e onde a língua portuguesa teve um papel crucial “na formação da identidade e na conquista da independência”.

“A identidade é deliberadamente construída para manter a coesão de um povo. A minha preocupação é que fiquemos descaracterizados, especialmente com a pressão da globalização”, afirmou.

“O que nos faz diferentes dos outros? Esta é uma questão importante e tem a ver com a sobrevivência do povo e da nação. Precisamos de ter políticas claras nisto”, disse.

O chefe de Estado apontou o dedo às “incapacidade do Estado para implementar algumas das suas políticas definidas”, como é o caso da generalização da língua portuguesa crucial para que o país possa ter cada vez mais técnicos e especialistas formados.

É necessário fortalecer as condições do ensino universitário em português mas, a montante disso, atuar ao longo de todo o sistema educativo, onde “o ensino da língua portuguesa nas escolas ainda não atinge níveis suficientes para ser usada com a qualidade que os estudantes precisam”, disse.

O Presidente timorense culpou o Ministério da Educação por “desperdiçar tempo e recursos humanos e financeiros preciosos para promover o desenvolvimento na educação pré-escolar e escolar das línguas maternas”, algo que considera “m erro” que deve ser parado.

“O êxito na implementação das políticas não apenas na educação, mas em todas as políticas depende da clareza dos objetivos e da determinação de todos nós. Sem unidade e sem estabilidade de objetivos não andamos para a frente”, considerou.

Numa intervenção em representação do reitor da UNTL, Ângela Carrascalão, decana da Faculdade de Direito, considerou que “refletir sobre o futuro de Timor-Leste é também refletir sobre a língua e portuguesa” e sobre o ensino e aprendizagem em Timor-Leste.

Um propósito que deve mobilizar “não apenas a comunidade académica, mas a comunidade em geral”, permitindo assim “consolidar a sua pertinência para a consolidação da identidade nacional e desenvolvimento enquanto Estado independente”, acrescentou.

Para conseguir este objetivo, Ângela Carrascalão disse que é necessária “vontade e esforços coletivos” que desenvolvam um “programa sistemático de ensino público focado na importância da formação linguística em todos os níveis, do primário ao universitário”.

“Temos que definir de forma clara e inequívoca o que queremos para o nosso país, o nosso povo e identificar o caminho a percorrer para lá chegar”, disse.

“Não basta invocar a importância histórica da língua portuguesa nem a sua dimensão global. É necessária uma agenda política clara e consistente, capaz de responder de forma adequada aos vários desafios a vencer”, insistiu.

Fonte: DN. Pt
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