Com uma população portuguesa e luso-descendente estimada em cerca de 120 mil pessoas, um dos desafios passa “por reforçar a presença da língua portuguesa no Pré-escolar, no Ensino Secundário e Superior”, assume Joaquim Prazeres
Numa altura em que o Camões, I.P. dinamiza duas modalidades de ensino ministradas do 1° ao 6° anos – o integrado e o complementar – “o outro desafio passa por reforçar a presença da língua portuguesa no Pré-escolar, no Ensino Secundário e Superior”, acrescenta o Coordenador que acredita estarem reunidas “as condições para podermos fazer um trabalho de maior divulgação e promoção da língua e cultura portuguesas, diversificar a nossa oferta formativa e adaptá-la ainda mais a este contexto, bem como reforçar o acompanhamento pedagógico do nosso corpo docente”.
Quais são as grandes metas para o EPE no Luxemburgo?
A investigação tem provado que um bom domínio da língua materna/de herança encoraja a aprendizagem de outras línguas e, consequentemente, favorece a integração escolar, social e profissional.
No caso da língua portuguesa, o seu domínio representa uma vantagem, como língua de comunicação internacional e em expansão mundial. No terreno, a implementação do ensino de Português em contexto escolar encontra um grande desafio: vencer resistências da sociedade luxemburguesa, no geral, e, em particular, de alguns professores e agentes educativos do sistema luxemburguês. Estas resistências assentam em preconceitos em relação ao papel e ao espaço a atribuir à Língua Portuguesa e a conceções tradicionais sobre a importância das línguas maternas/de herança no processo cognitivo e de aprendizagem das crianças, contrariando o espírito presente nos discursos políticos e nos programas educativos.
Outro desafio passa por reforçar a divulgação da nossa oferta, equacionar formas mais diretas e eficazes para chegar ao nosso público e, assim, dar a possibilidade de frequentar os nossos cursos a mais alunos luso-descendentes ou outros interessados em desenvolver competências na nossa língua.
Por fim, num momento em que dispomos de duas modalidades de ensino inseridas no Ensino Fundamental (do 1° ao 6° anos) – o integrado e o complementar – outro desafio passa por reforçar a presença da língua portuguesa no Pré-escolar, no Ensino Secundário e Superior. No caso do Pré-escolar e do Ensino Superior, é nosso intuito intensificar as nossas ofertas, no âmbito dos assistentes de língua materna (a decorrer em Dudelange, Esch-sur-Alzette e Reisdorf) e do Leitorado de língua e cultura portuguesas na Universidade do Luxemburgo, respetivamente. O grande desafio passa por diversificar a oferta do Português a nível do Ensino Secundário, onde temos vindo a oferecer essencialmente cursos paralelos, não inseridos no sistema escolar luxemburguês, e favorecer a sua integração curricular, quer como disciplina de opção, quer como língua de opção.
Nesse sentido, foram feitos os primeiros contactos com o Lycée de Garçons em Esch/Alzette que se traduziram na oferta do Português como opção já no presente ano letivo. Esta iniciativa teve o apoio e o entusiasmo do diretor do liceu, que se manifestou interessado em dar seguimento à experiência, se concludente, e propor o Português como língua de opção a partir do próximo ano letivo. Ao concretizar-se, esta experiência poderá constituir um bom ponto de partida para chegar a outros liceus.
Em suma, na sequência das experiências adquiridas no Grão-Ducado do Luxemburgo, no âmbito dos assistentes de língua materna e do Leitorado, bem como dos cursos integrados, paralelos e, este ano, complementares, as grandes metas do EPE Luxemburgo são:
– Promover a língua portuguesa junto da comunidade escolar luxemburguesa, dos pais/encarregados de educação e de um público mais alargado;
– Reforçar e diversificar a oferta de cursos de/em português, preferencialmente em articulação com o sistema escolar luxemburguês;
– Melhorar a comunicação e difusão da informação, no que se refere às nossas diferentes ofertas de ensino de/em português, mas também às atividades de divulgação da língua e cultura portuguesas promovidas e/ou apoiadas pelo Camões, I.P.;
– Facilitar o acesso à cultura portuguesa, não só aos professores e aos alunos da nossa rede, mas à comunidade portuguesa e às comunidades educativas em que nos inserimos;
– Fomentar um quadro favorável à inovação pedagógica, propondo um plano formação contínua e mecanismos de acompanhamento pedagógico adequados aos nossos professores e uma gestão eficaz dos recursos.
A grande novidade terá sido, assim, a criação dos cursos complementares. Quais são as mais-valias desta modalidade para os alunos?
No Grão-Ducado, as autarquias têm um papel importante na definição da política educativa, sobretudo a nível do ensino fundamental, que envolve o ensino pré-escolar (ciclo 1) e três ciclos equivalentes aos primeiro e segundo ciclos do ensino básico em Portugal. A diversidade de oferta vem reforçar a nossa capacidade de adaptação ao sistema escolar luxemburguês, mantendo intacta a oferta do ensino da língua e da cultura portuguesas inserida neste sistema escolar.
Os cursos complementares constituem, efetivamente, uma mais-valia para os alunos que frequentam este tipo de ensino de português. São uma modalidade de ensino inserida nas escolas, há uma articulação entre os professores luxemburgueses e os professores portugueses, o programa curricular integra o plano de estudos luxemburguês e o programa do ensino português no estrangeiro, a avaliação de competências é integrada no boletim escolar do aluno e a certificação de competências em português será assegurada pelo Camões, I. P., com os critérios de rigor e competência que lhe são reconhecidos. Para além disto, consideramos que esta oferta, em sintonia com as autoridades luxemburguesas, representa um reconhecimento da importância da língua portuguesa dentro da escola e a sua valorização no percurso escolar dos próprios alunos.
Que objetivos futuros têm para esta modalidade de ensino?
A experiência que está a ser levada a cabo em Esch-sur-Alzette constitui um elemento essencial para que esta modalidade de ensino, baseada na concertação entre professores portugueses e luxemburgueses, numa articulação com o poder local e as estruturas de acolhimento, possa vir a ser a pedra angular do sistema de ensino de português no Luxemburgo. Neste momento, ainda é cedo para fazer um balanço, mas estamos confiantes que esta modalidade de ensino beneficia a integração e o sucesso escolar dos alunos lusófonos.
A implementação dos cursos complementares parece estar a ter, em algumas autarquias, um efeito catalisador de esforços para passar de um sistema integrado para um sistema de ensino complementar. Além de Esch-sur-Alzette, estão a funcionar cursos complementares em Remich e numa escola da cidade do Luxemburgo e reconhecemos sinais de movimentações noutras autarquias, como a de Vianden, que podem tomar o mesmo rumo, ou seja, transitar paulatinamente do ensino integrado para o complementar.
Outra novidade é o reforço da equipa, com a chegada de uma adjunta de coordenação…
A implementação dos cursos do ensino complementar constitui um desafio para a Coordenação de Ensino e os professores, visto que se trata de uma nova modalidade de ensino, com um programa próprio. Foi neste âmbito que se decidiu reforçar a equipa, integrando um elemento com formação especializada na área da didática de línguas e formação de professores, com competências científicas e pedagógicas para propiciar um maior acompanhamento aos professores que estão diretamente implicados na implementação desta modalidade de ensino, nomeadamente no âmbito das sessões de acompanhamento e produção de materiais que, este ano, estão a ser implementadas semanalmente com os professores dos cursos complementares de Esch-sur-Alzette.
Após os procedimentos concursais normais para este tipo de colocações, recebemos, em setembro, Mónica Bastos, doutorada em Educação – Ramo de Didática e Desenvolvimento Curricular pela Universidade de Aveiro e investigadora do Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores da mesma universidade. A par de outras responsabilidades na estrutura de Coordenação, a nova adjunta tem monitorizado e acompanhado, de ponto de vista pedagógico, a implementação dos cursos complementares, no espírito dos princípios definidos nos documentos de desenvolvimento curricular, esforçando-se por fomentar um clima favorável à inovação pedagógica e ao trabalho colaborativo entre os professores.
Pode dar-me exemplos de projetos/atividades dinamizados pelos professores?
De que forma estes projetos realizados nas salas de aulas, fora delas ou desenvolvidos no âmbito familiar complementam o ensino do Português? O projeto de apoios a alunos, feito em parceria com a CCPL é um deles…
Trata-se do Projeto Pilar, ao qual a Coordenação de Ensino se associou desde o início, e que envolveu, no ano anterior, cerca de 200 pessoas, tendo como principal objetivo promover a inclusão social e escolar dos jovens de origem portuguesa residentes em Esch-sur-Alzette. Apesar de inicialmente se destinar a jovens dos 12-16 anos, foi alargado aos jovens até aos oito anos de idade. O projeto tem dado os seus frutos, neste momento temos uma professora a colaborar no apoio a alunos em situação de dificuldades escolares com necessidade de um apoio, nomeadamente em relação à língua alemã, que é a língua de alfabetização e de escolarização nos primeiros anos de escolaridade no sistema luxemburguês.
Ao longo dos anos, os nossos professores têm dinamizado atividades extra-curriculares com os seus alunos, quer visitas de estudo – no Luxemburgo e no estrangeiro, nomeadamente em Portugal -, quer atividades de cariz cultural, como encontros com escritores; sessões de teatro de fantoches; comemoração de datas significativas da cultura portuguesa, como o S. Martinho, com a realização de magustos; festas de Natal e de final de ano; e outros trabalhos de projeto – a título de exemplo, o dia mundial da luta contra o cancro.
Ainda acerca dos docentes, haverá atividades de formação contínua, neste ano letivo?
Possibilitar o acesso à formação aos professores da rede constitui uma das prioridades da Coordenação de Ensino. Neste momento, está a decorrer o projeto de acompanhamento pedagógico da implementação dos cursos complementares – a CEPE, em parceria com a DPFC do Camões, I. P. e o MENJE – já atrás mencionado. Está ainda em organização a oficina de formação ‘Da Didática dos Textos a uma Pedagogia da Escrita’, a dinamizar no próximo mês de dezembro pela especialista em Didática da Escrita, Luísa Álvares Pereira, da Universidade de Aveiro, em parceria com o MENJE e o IFEN. Estamos também em plena fase de preparação do plano de formação para o próximo ano, que integrará propostas formativas no âmbito da planificação do ensino-aprendizagem e da metodologia e didática, de acordo com as áreas identificadas como prioritárias pelos professores da nossa rede.
É de salientar que, para além da formação promovida diretamente pela CEPE, os professores da rede de ensino português no Luxemburgo têm acesso a toda a formação organizada pelo IFEN, nos mesmos termos que os professores do sistema luxemburguês.
Na área da cultura, que eventos a Coordenação dinamiza à semelhança, por exemplo, da participação na Feira do Estudante?
O plano de divulgação do próximo ano está em fase de conclusão, é nossa intenção manter e reforçar as dinâmicas de divulgação da língua e cultura portuguesas e de incentivo à leitura e ao livro em Língua Portuguesa.
Para além dos muitos eventos em que os professores participaram e alguns deles já mencionados anteriormente, a CEPE-Luxemburgo esteve presente na 31e Foire de l’Etudiant, que se realizou nos dias 9 e 10 de novembro. Organizada pelo CEDIES (Centro de documentação e Informação sobre o Ensino Superior), destinada aos alunos do Ensino Secundário, contou com a participação de representantes de 18 países e cerca de nove mil visitantes. Tem como principal objetivo divulgar as diversas vias de estudos oferecidas pelos estabelecimentos de ensino superior no Luxemburgo e no estrangeiro, bem como facilitar os contactos e a troca de informações entre instituições. A presença portuguesa tem sido uma constante e, este ano estiveram representados várias Universidades e Institutos Politécnicos vindos de Portugal, quer no espaço da Embaixada de Portugal – Coordenação de Ensino, quer no da Universities of Portugal. Anualmente, desde que se têm realizado as provas de certificação de português para os alunos que frequentam os cursos de língua e cultura portuguesas, a CEPE organiza a entrega dos respetivos diplomas, com os objetivos de homenagear todos os que contribuíram para o sucesso destes alunos – professores, pais e encarregados de educação – e de incentivar e encorajar todos os alunos que continuam com empenho e dedicação a aprendizagem da língua portuguesa. De forma a dignificar o ato, a cerimónia tem decorrido em espaços culturais emblemáticos, um pouco por todo o país, e tem contado com momentos culturais e personalidades de relevo da nossa comunidade.
Numa entrevista para o Encarte Camões, I.P. de dezembro de 2016, referia que ainda havia “muito a fazer no sentido de o português se afirmar como língua de opção em colégios, liceus e outros estabelecimentos de ensino”. Esta realidade alterou-se, entretanto? Que caminho há ainda a percorrer?
O ano de 2016/2017 foi um ano chave no ensino português no Luxemburgo e, ao mesmo tempo, um ano de intensa atividade. As negociações com as autoridades luxemburguesas sobre o futuro do ensino de português no Luxemburgo levou a CEPE a repensar as suas perspetivas.
Como já foi referido anteriormente, é nossa intenção diversificar a oferta do Português a nível do Ensino Secundário, favorecendo a sua integração curricular, quer como disciplina de opção, quer como língua de opção. Estamos já a implementar um curso neste espírito num dos liceus de Esch-sur-Alzette, e pretendemos alargar a experiência a outros estabelecimentos de ensino secundário, já a partir do próximo ano letivo. Para isso, temos de visitar escolas, estabelecer contatos com diretores de escolas e com pais/encarregados de educação, e, acima de tudo, motivar os diversos interlocutores para a importância deste tipo de oferta, do potencial económico e cultural que representa a Língua Portuguesa no panorama mundial.