OUTRA VISÃO PARA O PORTUGUÊS

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É falado por mais de 250 milhões de pessoas e utilizado em 30 organizações internacionais. Pode ser cada vez mais uma língua de negócios. E também da ciência. Para além de ser o espelho da nossa cultura. O português é assim apresentado pelo presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, o diplomata […]

Felisbela Lopes

É falado por mais de 250 milhões de pessoas e utilizado em 30 organizações internacionais. Pode ser cada vez mais uma língua de negócios. E também da ciência. Para além de ser o espelho da nossa cultura. O português é assim apresentado pelo presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, o diplomata Luís Faro Ramos que, esta semana, em entrevista ao “Expresso”, referiu também o objetivo de tornar o nosso idioma numa língua de trabalho das Nações Unidas. É uma nova visão para a língua portuguesa que implica muito trabalho pela frente.

Há dois anos, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, criou os encontros de investidores da diáspora. Quem acompanhou a última edição, que decorreu em Viana do Castelo no último mês de dezembro, percebeu bem a importância de pensar a língua a partir de vários campos, inclusive da economia. Porque um pouco por todo o lado, há portugueses que investem, que promovem negócios, que se constituem como motores fundamentais de uma dinâmica económica que, mesmo declinada noutra língua, transporta consigo a identidade portuguesa, e de forma indireta a nossa língua. É preciso, pois, valorizar esse ativo. Traduzido isto em números, temos mais de dois milhões de portugueses espalhados por 178 países, aos quais se somam os respetivos filhos e netos. E são estas sucessivas gerações que nos tornam muitos a partilhar uma identidade lusa, numa imaterialidade que nos estrutura como pessoas com traços distintivos ímpares, unidos por uma língua que é um dos nossos mais valiosos patrimónios.

Essa comunidade é substancialmente alargada, quando pensamos nos falantes do português. Somos muitos. E, por isso, há que saber traçar políticas eficazes que nos posicionem com robustez a nível internacional. O diplomata Luís Faro Ramos vem agora propor que também olhemos para o português como língua de negócios. Criou-se já o estatuto da Empresa Promotora da Língua Portuguesa que permite a qualquer empresa associar o seu nome a vários projetos, como bolsas, leitorados ou cátedras. É um modo de começar a reposicionarmo-nos noutras dimensões. Faro Ramos fala do interesse das autoridades chinesas pelo português nos negócios que se fazem em África. Também aponta a procura crescente pela aprendizagem da nossa língua em países como o Senegal e o Uruguai. E isso representa certamente a necessidade de incrementar a comunicação em determinadas áreas que convém explorar com atenção.

Um outro modo de pensar o português é como língua da ciência num contexto em que o inglês se tornou uma espécie de língua franca para congressos, para publicações científicas ou simplesmente para conversas informais entre cientistas. Não é fácil desenvolver políticas públicas num universo tão conectado internacionalmente através sobretudo de uma língua. Mas é sim possível fazer coabitar a língua padrão do mundo científico (o inglês) com a nossa língua pátria, sobretudo em matérias como o ensino, a literacia científica, a divulgação, a disseminação e a translação dos resultados do progresso da ciência para contextos empresariais e sociais.

Claro que nunca podemos esquecer o português como língua de cultura. E aí a literatura terá sempre uma colossal centralidade. É preciso, pois, cuidar mais dos nossos escritores, ajudando-os a alcançar uma outra projeção fora do país. No campo das indústrias culturais, é imperioso olhar de outro modo para tudo aquilo que se produz em português com qualidade e criar outros canais de comunicação com aqueles que, de vários modos, procuraram colocar esses conteúdos noutras geografias.

Em qualquer país, a língua deve ter sempre uma enorme centralidade naquilo que fazemos em nome coletivo. Trata-se do nosso maior património. Pode ser um lugar de memória, mas é seguramente o espaço de projeção daquilo que queremos ser. Por isso, deve ser sempre encarada como um desígnio nacional, principalmente em termos de políticas públicas.

* PROF. ASSOCIADA COM AGREGAÇÃO DA U. MINHO


Fonte: Jornal de Notícia

 

 

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