O III Painel, “Português língua de herança: perspetivas e práticas (II)”, teve como oradores o Prof. Doutor Rui de Azevedo e a Prof.ª Doutora Katia Chulata. Este Painel foi moderado pela Prof.ª Doutora Josefina Ferrete.
O Prof. Doutor Rui de Azevedo, do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, onde exerce as funções de coordenador do ensino do português na Alemanha, apresentou o tema “A experiência em contextos de ensino aprendizagem de Português Língua de Herança – contributo para uma reflexão sobre práticas pedagógicas”.
Azevedo frisou que a Didática de Línguas de Herança realiza-se há mais de cinco décadas (década de 60 na Europa e década de 70 em África). É reconhecido que é uma área relativamente nova em Portugal, não só em termos da aquisição das línguas dos falantes imigrantes em território nacional, como também da aquisição do português em países de emigração. Basta referir que o Camões I.P., a quem cabe gerir a rede de ensino português no estrangeiro no nível pré-escolar e nos ensinos básico e secundário, só há relativamente pouco tempo passou a adotar essa terminologia de uma forma oficial.
O atual modelo de Ensino de Língua Portuguesa no Estrangeiro (EPE) caracteriza-se pela opção do Estado Português de passar a fornecer diretamente os docentes para o ensino da língua nas escolas públicas e privadas em vários países europeus (e na África do Sul). Este modelo permitiu a difusão da língua a outros universos de falantes que não apenas os luso-descendentes, situação que hoje ainda se acentua mais, nomeadamente na África do Sul, onde os alunos lusodescendentes, em 2016, representavam cerca de 56% do universo de alunos da rede de Ensino Português no Estrangeiro (EPE) e eram 11% os descendentes de famílias de países de língua portuguesa (Angola, Brasil e Moçambique – na sua maioria).
De acordo com a diversidade de contextos de Ensino de Língua Portuguesa no Estrangeiro (EPE), bem como dos perfis linguísticos e culturais dos alunos, esses programas são documentos abertos, flexíveis e dinâmicos, características que os tornam passíveis de serem adaptados a contextos diferenciados e a um vasto e variado público-alvo com necessidades e expectativas também elas muito diversas.
Estes perfis linguísticos são fruto de diásporas e contextos diversos, o que leva a língua portuguesa a assumir diferentes estatutos: língua de herança (PLH), língua segunda (PLS), língua estrangeira (PLE) e língua materna (PLM).
As especificidades do PLH exigem que, para os alunos, sejam criados contextos de vivência da língua propícios a valorizar e estabelecer um forte vínculo afetivo com a sua identidade como cidadãos portugueses ou de origem portuguesa, de modo a garantir que o domínio da língua do país de acolhimento se faça por integração harmoniosa com o domínio da língua portuguesa e não por mutilação desta última.
Azevedo concluiu que o EPE implica reconhecer a diversidade do público-alvo, tendo em conta os contextos em que os alunos se inserem, a saber, a família, a escola, a comunidade, o contexto sociocultural em que vivem, o do país de origem, bem como o contexto sociolinguístico.
A responsabilidade de instituições como o IILP, como o Camões I.P., instituições de ensino superior, investigadores, professores, comissões de pais e de encarregados de educação é importantíssima para a melhoria da qualidade do ensino de língua portuguesa.
Fim da última parte.