
As histórias, construídas de raiz pelos alunos, foram por eles apresentadas no dia 3 de abril, na Universidade de York a um júri composto por Maria João Dodman, professora e coordenadora do programa no âmbito do qual esta iniciativa se insere – Portuguese and Luso-Brazilian Studies; Ana Paula Ribeiro, Coordenadora do Ensino Português no Canadá, com o apoio do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua (Camões, I.P.), copatrocinador desta atividade; a escritora e académica Irene Marques; e a jornalista, escritora e atual curadora da Galeria dos Pioneiros Portugueses em Toronto, Humberta Araújo.
Na sua apresentação, os alunos fizeram breves sinopses das histórias, previamente lidas pelo júri. “Jovens e verdadeiros autores, explicaram como as suas ideias foram evoluindo, os objetivos, avaliação dos resultados, para além de refletirem sobre o processo de escrita colaborativa e de aprendizagem. Foram estes os motes para um diálogo prolífico entre os alunos e o júri, desvendando opções e intenções de escrita e de ilustração, discutindo o poder das palavras e das imagens, diferentes interpretações, a adaptação das histórias à realidade timorense e a sua universalidade, entre outros aspetos”, explica Inês Cardoso, docente do Camões, I.P. na Universidade de York.
A iniciativa partiu de uma proposta de Inês Cardoso, que é professora da disciplina de Português Intermédio, e realizou-se em parceria com o projeto ‘Formar Mais – Formação Contínua de Professores’ em Timor-Leste e o Camões, I. P.
Os alunos organizaram-se em grupos com o objetivo de criar livros para crianças timorenses. Para ilustrarem as suas histórias puderam utilizar um banco de imagens disponível no site ‘storybird’ ou optar por criar as suas próprias ilustrações. Foi o que fez o grupo autor do livro ‘Canção de fé – uma história de esperança’. “Sabiam, portanto, desde o início, que os livros produzidos se destinariam a oferta a bibliotecas escolares do ensino básico em Timor-Leste, contexto em que têm sido diagnosticadas necessidades relativamente à promoção da leitura em Português”, sublinha Inês Cardoso.
A criação das histórias partiu da pesquisa de informações sobre a realidade e tradições timorenses, com o objetivo de escreverem textos mais ajustados ao público-alvo: as crianças timorenses às quais seriam entregues os livros. A partir desta recolha de informação, os alunos de Português da Universidade de York lançaram-se na escrita da primeira versão completa das suas histórias, que foram revistas não só pela professora da turma, mas também pela escritora Rosa Maria Oliveira e pela Coordenadora-Adjunta do projeto ‘Formar Mais – Formação Contínua de Professores’ em Timor-Leste, Ana Luísa Oliveira.
“Esta atividade coaduna-se, portanto, com os objetivos de aprendizagem dos alunos, que beneficiaram de uma interação leitura-escrita promotora quer da leitura quer de uma produção escrita mais informada e com maior valor estético; além disso, permitirá a socialização daquele que foi, primariamente, um objeto de avaliação dos alunos e que passará a transpor a sala de aula e a encontrar leitores reais”, sublinha Inês Cardoso.
Os grandes valores desta atividade e dos livros produzidos foram já destacados pela especialista em literatura infantojuvenil Ana Margarida Ramos, professora auxiliar do Departamento de Línguas da Universidade de Aveiro, back office do projeto ‘Formar Mais’, que salientou a qualidade global dos trabalhos produzidos, tanto ao nível dos textos como das ilustrações, além de uma efetiva preocupação com o contexto dos destinatários das produções. A investigadora distinguiu o elevado comprometimento de aprendentes estrangeiros, “num contexto social, económico, cultural e educativo também ele muito distante do da ilha do sol nascente”, para quem o português ou é língua estrangeira ou de herança.
A turma de Português Intermédio da Universidade de York é constituída por alunos de origem lusófona – portuguesa, brasileira e angolana –, bem como não lusófona, como, por exemplo, da Jamaica, Colômbia, Chile, revela Inês Cardoso. “Se, em cima de tudo isto, tivermos em conta que os autores são alunos estrangeiros a aprender português, a muitos milhares de quilómetros de Timor-Leste, (…) talvez fique mais clara e evidente a conclusão de que a língua e a literatura diminuem distâncias, suprimem fronteiras e estreitam os laços entre as pessoas. E que as histórias continuam a ser importantes veículos de comunicação e de partilha.”, concluiu Ana Margarida Ramos.
Fonte: Mundo Português