O atual ano letivo, iniciado em janeiro e a concluir em dezembro, trouxe um aumento de 39% nas inscrições e frequência dos cursos de português, nos níveis básico e secundário, na África do Sul. Num país com 11 línguas oficiais, a expansão da língua portuguesa obriga a um trabalho acrescido que passa, entre outros aspetos, por lembrar a sua importância: é a única língua oficial dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), a segunda língua africana mais falada na sub-região e uma língua de presença global, frisa o coordenador do EPE (Ensino Português no Estrangeiro) na África do Sul. O nosso lema é “Pense África, fale Português – uma língua para o mundo”, sublinha Carlos Gomes da Silva.
Quando chegou à África do Sul, em 2016, havia um total de 1800 alunos no ensino básico e secundário. Dois anos depois, qual é o número global de alunos?
No ano letivo em curso, houve um aumento de 39% relativamente a 2017 das inscrições e frequência dos cursos Ensino Português no Estrangeiro (EPE) de ensino básico secundário – um total de 2.249 alunos. Verificou-se um aumento significativo de alunos luso-descendentes que representam aproximadamente 60% e os restantes 40% incluem lusófonos, sobretudo de Angola e Moçambique, sul-africa- nos e outras nacionalidades. Cerca de 80% dos nossos alunos e professores estão na Província do Gau- teng (Joanesburgo, Pretória, Soweto e Vanderbylpark). Na área de Joanesburgo, onde reside a maioria da comunidade portuguesa, abrimos em 2018 cursos PLE em seis novas escolas públicas e privadas, cobrindo atualmente todas as zonas de concentração de portugueses e luso-descendentes na grande área de Joanesburgo.
O número de alunos sul-africa- nos não aumentou significativamente, à excecão da ‘Protea Glen Secon- dary School’ no Soweto – um bairro emblemático da resistência ao apartheid e hoje símbolo da nova África do Sul -, onde em 2017 havia 68 alunos matriculados nos cursos PLE e em 2018 passaram para cerca de
170. Há um enorme potencial de interessados nas áreas socioeconomicamente mais desfavorecidas pela aprendizagem do português mas há igualmente considerações diversas que têm de ser levadas em conta: o aumento da despesa inerente ao alargamento da rede, a carência das
O ensino do Português na África do Sul tenderá a ser, cada vez mais, uma opção de alunos não lusófonos?
A África do Sul tem a mais numerosa e importante comunidade luso-descendente em África, cerca de 400 mil pessoas. Registou-
-se um aumento de 11% dos alunos luso-sul-africanos matriculados nos cursos de PLE. Há um maior interesse por parte de luso-sul-africanos que os filhos aprendam português, mesmo que eles próprios já não o falem fluentemente. Os encarregados de educação luso-sul- -africanos têm hoje consciência que a aprendizagem da língua portuguesa é uma mais-valia para o futuro profissional dos seus educandos; por outro lado, há muitas famílias a “regressar” a Portugal. A sua motivação pela aprendizagem do português não é mais ou apenas por razões de afeto e da origem dos seus antepassados. É uma língua útil e completa a sua identidade cultural.
A integração dos cursos de português no horário e no currículo escolar sul-africano, como primeira ou segunda língua adicional ou como disciplina de opção, tem sido um objetivo conseguido?
O português é disciplina curricular do 10°, 11° e 12° anos de escolaridade e é uma das poucas línguas não oficiais que podem ser oferecidas como língua materna, primeira língua adicional ou segunda língua adicional, quer as aulas funcionem em regime integrado ou paralelo. A nota exame final obtida para português (Matric, 12° ano) conta para a média de acesso ao ensino superior.
A integração do ensino do Português Língua Estrangeira (PLE) pressupõe que teremos de disponibilizar em cada uma dessas escolas um docente, dedicando 15 horas semanais ao ensino do português, do 8° ao 12° ano de escolaridade, independentemente do número de alunos que frequentem os cursos. Sendo o principal obstáculo à integração a grande dispersão da comunidade luso-sul-africana.
Não obstante estas restrições, há que mencionar avanços significativos no projeto de integração, tais como a ‘Protea Glen Secondary’ no Soweto, ou a ‘Bryanston High School’ na zona norte de Joanesburgo que estão interessadas em integrar o português no horário curricular em 2020. A ‘Durban High School’, escola pública frequentada por Fernando Pessoa, lançou em janeiro de 2018 um horário curricular para as disciplinas de opção, durante o qual funcionam duas turmas PLE com um total de 29 alunos inscritos. O ‘Abbots College em Pretória’ – com português já integrado no currículo há alguns anos e com 70 alunos nos cursos do 10° ao 12° anos de escolaridade como disciplina de opção ou segunda língua adicional – instituiu desde maio de 2017 a disciplina de português obrigatória para todos os alunos dos 8° e 9° anos de escolaridade, o que representou aumento real de 60 alunos. O ‘Crawford College’ de Pretória, onde funcionam cursos integrados no ensino básico (do 1° ao 7° ano de escolaridade), oferecerá a partir de janeiro de 2019 um curso integrado, com uma turma do 8° ano (início do ensino secundário no sistema educativo sul-africano).
Tem sido possível estreitar a colaboração com o Ministério da Educação sul-africano, acerca do ensino do português e da futura formação de professores?
Na África do Sul, os ministérios de educação provinciais têm a tutela do ensino e os estabelecimentos de ensino gozam de uma importante autonomia quanto à sua organização e à oferta de disciplinas do currículo.
Temos tido reuniões com altos funcionários do Ministério da Educação nacional e das províncias onde temos cursos PLE, nomeadamente no Gauteng, no Cabo Ocidental e no Kwazulu Natal.
Estas autoridades reconhecem a importância de desenvolverem ensino do português como segunda língua adicional/língua estrangeira no ensino secundário público, como disciplina de opção para prepararem as novas gerações para a sua mobilidade no mundo global e entrarem nos mercados de trabalho de Angola e de Moçambique, bem como de Portugal e do Brasil. A atual conjuntura política e socioeconómica do país, em recessão desde 2017, não tem permitido avançar-se quanto se desejaria por esta via, com contrapartidas oferecidas pelos parceiros sul-africanos.
Vamos igualmente iniciar o processo oficiai de criação de currículos para as três tipologias – língua materna, primeira e segunda língua adicional, a todos os níveis de ensino, disponibilizando, na medida do que for entendido pelo Ministério da Educação do Ensino Básico nacional como conveniente, a nossa colaboração e a partilha do trabalho realizado. O Embaixador de Portugal na África do Sul, Manuel Carvalho, irá solicitar uma audiência com o Ministro no início de 2019.
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