
«Queremos, em primeiro lugar, consciencializar os pais para o facto de que é importante a transmissão da língua. Não só para a criança, mas para a família e para a sociedade. São crianças multiculturais e essa multiculturalidade pode trazer uma tolerância maior. E queremos também apoiar os pais porque não é fácil fazer isto. Muitos não conseguem sozinhos e abandonam por causa das dificuldades.
Queremos mostrar que há apoio e que há soluções para tornar esta transmissão possível», afirmou Namíbia Peixoto de Ana, fundadora da associação Herança Brasileira e especialista em bilinguismo, em declarações à agência Lusa, em Paris.
A primeira sessão deste programa aconteceu esta semana, na embaixada do Brasil na capital francesa, com o tema “Ferramentas para transmissão de língua de herança no quotidiano”. A iniciativa é financiada pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, aberta a todos os pais que tenham como língua materna o português e vai estender-se com diversas atividades, como ateliers e conferências, até junho deste ano.
Para além disso, a associação Herança Brasileira vai lançar até ao final de junho duas publicações: um repertório de fichas com temas para conversação com crianças e um conjunto de perguntas e respostas para pais de crianças bilingues.
Nesta primeira sessão, a plateia contou sobretudo com mães e pais brasileiros de crianças em idade escolar que estudam em França e que se deparam com as dificuldades de gerir o bilinguismo entre a escola, onde se fala francês, e a vida em casa, onde a língua mais falada é o português.
Namíbia Peixoto de Ana diz que o melhor a fazer é saber gerir as expectativas.
«É preciso que os pais saibam que não existe um bilingue perfeito. Ninguém fala perfeitamente uma língua, o que dirá duas. Diminuir essa expectativa já é um grande passo. É esperar que as crianças sejam capazes de comunicar dentro do contexto da família, numa viagem ao Brasil ou a Portugal, isso é possível. Mas esperar de cara que a criança vá falar português como alguém que nasceu e foi criado no Brasil ou em Portugal não é realista», disse a fundadora da associação.