ALUNOS DE PORTUGUÊS TÊM “BOAS SAÍDAS” PROFISSIONAIS NA CHINA

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Sofia Minfen Zhang dedica-se ao ensino de Português em Xangai, tendo já passado por Macau e Portugal, onde se dedicou ao estudo da presença dos portugueses e dos Descobrimentos. De momento, encontra-se a dar forma a um livro sobre a história da sinologia portuguesa, uma tarefa morosa. A docente acredita que o ensino da Língua […]

Sofia Minfen Zhang dedica-se ao ensino de Português em Xangai, tendo já passado por Macau e Portugal, onde se dedicou ao estudo da presença dos portugueses e dos Descobrimentos. De momento, encontra-se a dar forma a um livro sobre a história da sinologia portuguesa, uma tarefa morosa. A docente acredita que o ensino da Língua Portuguesa na China Continental continuará a crescer, sobretudo devido aos intercâmbios que acabam por proporcionar “boas saídas” profissionais

O “ensino de Português na China deverá continuar a expandir-se”. É esta a percepção de Sofia Minfen Zhang, professora de Português na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, que já passou por Macau. Foi, aliás, pensando na possibilidade de trabalhar no território – a par do gosto pelas línguas – que começou por estudar Português.

“Era uma língua muito pouco conhecida e estudada na altura. Estava cheia de curiosidade tanto pela própria língua, como pelos países de língua oficial portuguesa”, contou à TRIBUNA DE MACAU.

Além disso, prosseguiu, “pensava que poderia trabalhar em Macau”. A oportunidade surgiu no Banco Nacional Ultramarino, mas o gosto pelo ensino acabou por ser mais forte, tendo decidido seguir a carreira de professora e “continuar a estudar a cultura dos países lusófonos”.

É essa a tarefa que desempenha desde 1994 na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, onde a licenciatura em língua e literatura portuguesas foi criada em 1977, tendo recebido os primeiros alunos no ano seguinte. Porém, só mais tarde, em 2007, se deu forma ao mestrado na mesma área. “Actualmente, há oito professores chineses e um português enviado pelo Instituto Camões”, sublinhou.

A cada novo ano, a licenciatura acolhe entre 20 a 25 alunos, e o mestrado entre dois a quatro. “Entre 2018 e 2019 não há grande diferença. No total são cerca de 90 alunos”, afirmou Sofia Minfen Zhang. Fernando Pessoa, José Saramago, Camilo Castelo Branco, Sophia de Mello Breyner e Miguel Torga são os autores mais estudados e, apesar de terem acesso a obras na biblioteca da universidade, Sofia Minfen Zhang defendeu a necessidade de adquirir mais.

“A universidade tem comprado livros e também há instituições como Instituto Camões, Fundação de Gulbenkian, Instituto Internacional de Macau, Instituto Cultural de Macau, Fundação Macau, entre outros, que têm oferecido livros e revistas, mas não são suficientes”, lamentou.

Sofia Minfen Zhang considera que seria importante haver “livros de autores representantes de cada época”. E exemplificou: “Dos autores contemporâneos, conhecem mais José Saramago e quase não conhecem António Lobo Antunes ou Miguel Sousa Tavares”.

“É curioso que alguns [alunos] gostam de Português por causa do futebol do Brasil e de Portugal, nomeadamente do jogador Cristiano Ronaldo”, contou Sofia Minfen Zhang. Com os intercâmbios “cada vez mais frequentes entre a China e os países lusófonos, os alunos de Português têm tido boas saídas” em termos profissionais, explicou, razão pela qual considera que o ensino da língua na China Continental continuará a alargar-se.

Segundo a professora, a maioria trabalha em Portugal, Brasil, Angola ou Moçambique, mas ressalva que “na China também há emprego”. Actualmente há 40 instituições de ensino superior que ensinam Língua Portuguesa.

Os alunos que frequentam a licenciatura em língua e literatura portuguesas vêm, no primeiro ano, até à Universidade de Macau onde participam no curso de Verão em língua e cultura portuguesas. Já no terceiro ano vão estudar em Portugal, no âmbito de um protocolo assinado com as universidades Nova de Lisboa, Aveiro e Porto. Os alunos de mestrado também têm esta oportunidade.

Mas não só os estudantes usufruem desta mais-valia. Os docentes participam nos Cursos de Formação Contínua para Professores de PLE na China/Ásia-Pacífico organizados pelo Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau e também em congressos e fóruns tanto no território como em Portugal.

De acordo com Sofia Minfen Zhang, os intercâmbios são fundamentais. “Descobre-se a beleza da cultura de um país e desperta-se assim o interesse de dominar a sua língua”, acrescentou.

 

Sinologia portuguesa em livro

O interesse de Sofia Minfen Zhang pela cultura portuguesa nasceu cedo e, em 2000, começou a estudar a presença portuguesa no mundo quando ainda frequentava a Universidade de Macau. Foi já em Portugal que se especializou em História de Descobrimento e Expansão Portuguesa, com um doutoramento em História na Universidade Nova de Lisboa. “Comecei novamente a estudar a presença portuguesa na China. Apesar de não haver excelentes sinólogos portugueses na época contemporânea, os portugueses são os pioneiros no estudo da língua e cultura sínicas, ou seja, a sinologia”, prosseguiu.

Embora tenha começado há anos, ainda não reuniu todo o material que gostaria para a obra que pretende publicar: “Ainda me falta muita coisa. É um trabalho de longo prazo”. Assim sendo, não há ainda uma data para a sua publicação, mas o título, esse já é certo – “História da Sinologia Portuguesa”.

Uma vez que é “a única investigadora chinesa do Projecto da Fundação para a Ciência e a Tecnologia ‘RES SINICAE. Base digital de fontes documentais em latim e em português sobre a China (Séculos XVI a XVIII)’ do Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa”, poderá ter acesso a mais materiais dentro deste tema. “Ainda estou na fase de recolha”, frisou. Para isso terá também de se deslocar a Macau, nomeadamente para ter acesso a informações a partir da época em que “a sinologia portuguesa entrou em decadência com a dissolução da Companhia de Jesus”, tendo só recomeçado “com os trabalhos dos sinólogos macaenses”.

Até agora dispõe já de “relatos dos primeiros viajantes, nomeadamente os mercadores no sul da China” e documentos sobre a “época dos jesuítas e o nascimento e desenvolvimento da sinologia portuguesa”. Sofia Minfen Zhang admite que tem ainda uma tarefa morosa pela frente: “São tantos documentos que leva muito tempo a ler, além de que muitos manuscritos são muito difíceis para mim”.


Fonte: Jornal Tribuna de Macau
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