
Em 2018, a actriz e escritora brasileira Selma Maria publicou o livro “Brinquedos miúdos e graúdos nascidos da barriga da língua portuguesa”, agora escolhido para o PNLD, no qual participa aquele professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, especialista em brinquedos tradicionais.
“Este trabalho é o resultado dessas duas pesquisadoras que moram em mim: uma encantada com brinquedos, a outra com as palavras”, declarou a autora à agência Lusa, ao realçar que João Amado expressa no livro “o seu olhar sensível e poético sobre a infância e o seu brincar tão universal”.
Trata-se de “uma aventura lúdica”, contada através de poemas, que remete para brincadeiras dos oito países do mundo lusófono: Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, passando ainda por Macau, na China.
Há 33 anos, Selma Maria começou a estudar os brinquedos de Minas Gerais e da Amazónia, no Brasil, e esteve em Portugal em 2011 para participar num colóquio sobre literatura infanto-juvenil dos países lusófonos.
“Foi a primeira vez que estive em Portugal e apaixonei-me pela sonoridade, o chiado da sua língua. E praticamente esqueci que estava ali também para pesquisar os brinquedos portugueses, pois o som que ouvia nas ruas me deixou completamente no chão”, recordou.
A autora é companheira do escritor José Santos, que um dia lhe fez um desafio: “Por que não faz você um livro sobre brinquedos dos países que pertencem de algum jeito ao universo lusófono?”.
A ideia foi depois acolhida e concretizada pelo editor Beto Junqueyra, “também escritor, admirador e pesquisador de tudo o que envolve a lusofonia”, segundo Selma Maria.
Desde logo, a possibilidade de viajar no Brasil e em Portugal une três das suas paixões: “os brinquedos, a natureza e as palavras vindas de uma língua toda misturada”, como na obra “Brinquedos miúdos e graúdos nascidos da barriga da língua portuguesa”.
“Busco as primazias do mundo, os primeiros brincares, as primeiras palavras de uma criança, os primeiros sons e olhares. Aquilo que provoca surpresa e espanto”, descreve a investigadora.
No Brasil, devido à sua dimensão territorial, “sem programas de incentivo à leitura, que democratizam a cultura, seria impossível chegar a lugares como o sertão da Amazónia e outros, tão distantes do eixo Rio de Janeiro-São Paulo, onde estão a maioria das editoras e livrarias do país”.
Selma Maria é curadora da exposição “Perambular”, que reúne “brinquedos, palavras e coisas” de Portugal e Brasil e já foi visitada por 30 mil pessoas em Jundiaí, nos arredores de São Paulo.
A partir de 18 de Setembro, por iniciativa do Serviço Social do Comércio (SESC), a mostra reabre ao público em Bauru, outra cidade do estado, onde se manterá por três meses, até 15 de Dezembro.
“Venha ouvir as muitas palavras dessa língua tão rica e misturada que sonhamos à noite e inventamos de dia”, apela o SESC no convite.