Os 18 alunos vindos de sete países diferentes juntam-se nas noites de terças e quartas-feiras em busca do objetivo.

Línguas, sotaques e culturas diferentes. Dentro de uma sala de aula de Joinville, 18 alunos, de sete países diferentes, juntam-se nas noites de terças e quartas-feiras em busca de um único objetivo: aprender a língua portuguesa. Apesar de compartilharem a mesma finalidade, por trás de cada sorriso e olhares atentos há muitas histórias de superação.
Nas aulas realizadas no Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja), ministradas pela professora Joana Aparecida Caetano, a diversidade não é uma barreira para os alunos que buscam ter e dar um futuro melhor a suas famílias, algumas delas que ainda permanecem em seus países de origem.
Djenie Desir, 27 anos, nascida no Haiti. Ela saiu do seu país em 2016 com o objetivo de dar um futuro melhor para sua família. A estudante, natural de Porto Príncipe, morou dois anos no Chile antes de chegar ao Brasil e, guiada pelo sonho de se formar em medicina, deixou para trás os pais, irmãos e o filho de 10 anos. Apesar da saudade, segundo ela, gosta do Brasil e vê mais oportunidades de crescimento profissional.
– Aqui, além de ter estabilidade política, não é tão caro estudar – diz.
Djenie está há oito meses em Joinville e, desde então, procura por um emprego. Segundo ela, além de precisar quebrar a barreira do idioma, a maioria dos locais de trabalho pede experiência de, pelo menos, seis meses de carteira assinada. Atualmente, os pais a ajudam a pagar aluguel na casa em que mora com a prima, no bairro Itaum.

Em Porto Príncipe, Djenie trabalhava na área da construção civil, colocando pisos, profissão muito comum entre as mulheres do país. A longo prazo, além de conseguir fazer uma graduação, a estudante quer juntar dinheiro para poder trazer a família para perto.
– Sinto muita saudade da minha família, principalmente do meu filho. Quero um emprego para poder trazê-los para perto de mim – conta.
Apesar de sentir falta da família, Djenie não pensa em voltar ao Haiti para morar. No Brasil, reconhece oportunidades de crescimento, já se adaptou com a cultura e sente-se acolhida pelas pessoas, especialmente em Joinville.
– As pessoas são acolhedoras aqui. Me sinto muito bem.
Joinville como destino profissional
Bem diferente de Djenie, Edwin Osório, 24 anos, trancou a faculdade de engenharia química no México e, por meio de uma escola de intercâmbio, chegou a Joinville há cerca de um mês. Para ele, a cidade pode ajudá-lo profissionalmente.
– Eu estava à procura de desenvolvimento profissional, então, em buscas pela internet, fiquei sabendo de Joinville. Assim cheguei aqui.
O intercambista, natural da Cidade do México, veio sozinho para Joinville e pretende ficar por, pelo menos, um ano. Como já fala português fluente por ter morado em Campinas, onde fez intercâmbio na Unicamp, sua principal meta é perder o sotaque e melhorar a escrita.
– Falar corretamente o português é muito importante para mim. Quero conseguir o emprego que almejo para o futuro, e este aprendizado faz parte.
Atualmente, Osório dá aulas de inglês em um colégio da zona sul da cidade e, apesar de sentir-se em casa no Brasil, pretende voltar ao México para concluir sua graduação, já que faltam apenas seis meses. Depois disso, pretende conhecer mais países e dominar ainda mais idiomas.
Khassm Meengue nasceu no Senegal e mora há quatro anos em Joinville. Meengue tem 29 anos, veio para a cidade a convite do irmão mais velho e de um amigo, com o propósito de dar melhores condições de vida para a família.
Após uma viagem de ônibus com duração de quase 30 dias, apenas a roupa do corpo e uma mochila, Meengue passou pelo Equador e Peru até chegar ao Brasil – sendo que antes passou pela Espanha. Segundo ele, pela família, valeu todo o esforço. Na cidade, atua como vendedor ambulante. No Senegal, Meengue fazia bicos como vendedor na área da agricultura e no negócio de jardinagem do pai, já falecido.
O senegalês explica que, desde criança, sempre teve o sonho de imigrar, conhecer novas culturas e países. Em Joinville, sem falar uma palavra em português quando chegou, passou por algumas dificuldades até conseguir se adaptar.
– No começo, tive muitos problemas para me comunicar. A língua, a cultura e a comida são muito diferentes do meu país. Eu não conseguia trabalho – lembra.

Atualmente, já adaptado e com emprego, Meengue tem apenas um objetivo: juntar dinheiro para trazer o restante da família para o Brasil.
A história de alguns colegas é um pouco diferente: Alaihan Yoruk, 24 anos, natural de Istambul, na Turquia, e Alejandro Cabezas, 26 anos, natural de Caracas, na Venezuela, vieram para Joinville por causa de oportunidades de emprego que receberam da empresa Whirlpool. Os dois são formados em engenharia, moram em Joinville faz poucos meses, e iniciaram as aulas de português no Ceja porque, caso sejam efetivados na empresa, pretendem morar no Brasil e formar família aqui.
Yoruk mora no bairro Bom Retiro com três amigos e diz que a maior dificuldade de aprender o idioma, além da grande diferença do alfabeto turco para o português, é a rapidez com que as pessoas falam. Cabezas mora no bairro Jardim Sofia com mais três amigos estrangeiros e, por mais que algumas palavras em português sejam parecidas com o espanhol, diz ter ainda muita dificuldade com a língua.
Yoruk e Cabezas puderam escolher sair de suas origens e, apesar das diferenças, pretendem viajar o mundo, conhecer novas línguas e quebrar cada vez mais as barreiras culturais.
A professora Joana Aparecida Caetano, 50 anos, conta que ministrar aulas para os alunos do Ceja é um desafio positivo. Para ela, acostumada a lidar com crianças que já traziam de berço o idioma português, mudar radicalmente para uma turma de adultos, vindos de países diferentes, é um grande aprendizado. Afinal, como ela mesma diz, exercitar a mente é uma forma de viajar sem sair do lugar.
– É gratificante ter várias culturas dentro de uma sala só, faz com que eu viaje no mundo deles – conta.
Com paciência e dedicação, se for preciso, a professora repete palavra por palavra, visita carteira por carteira. Segundo ela, os alunos que entendem melhor o conteúdo e falam a mesma língua acabam se ajudando.
As aulas de língua portuguesa no Ceja, um projeto da Secretaria de Estado da Educação (SED), iniciaram no dia 5 de agosto e, ao concluírem, os alunos receberão um certificado de 160 horas.
A diretora Katiane Schroeder de Magalhães diz que a professora Joana foi a escolhida para estar à frente da turma porque, além de possuir qualificação para o cargo, o trabalho dela é diferenciado e já vinha sendo reconhecido pela direção da escola.
– Tenho orgulho dos meus alunos. Tiveram a coragem de deixar seus países de origem, muitos sem saber uma palavra em português, e abraçaram este desafio para dar uma vida melhor aos seus familiares – ressalta Joana.
Segundo a professora, a turma deste ano já está fechada. Entretanto, com alunos na lista de espera, serão disponibilizadas novas vagas para o semestre que vem. Interessados podem obter informações diretamente na escola, que fica na Rua Alexandre Schlemm, 110, bairro Bucarein.
Fonte: NCS Total