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Em 1981 concorreu a uma bolsa para estudar em Portugal e por cá esteve um ano a estudar na Universidade de Lisboa e a aperfeiçoar a língua.
Josiah Blackmore queria muito ler as obras clássicas da literatura portuguesa. Foi nessa altura que comprou um livro de poemas de Camões e leu-o pela primeira vez. A “paixão” continua quase 40 anos depois. Diz que continua a ler o poeta e cada vez que lê aprende sempre qualquer coisa. “Os poemas de Camões são como um amigo que conheço há muito tempo”, confessa.
E quando lhe perguntamos o que o fascina na obra de Camões responde: “Tudo”. Mas como pessoa interessada na língua e no emprego das palavras, afirma que “Camões é um artista da língua que é capaz de jogar com as palavras, tem uma maneira magistral de utilizar a língua, as palavras e o seu significado”.
Para Blackmore, “Camões é um grande mestre da língua, da imaginação, da cultura”. “E é por isso eu leio Camões”, sublinha o especialista que se sente em casa em Portugal.
Destaca sobretudo a vertente da navegação, da descoberta nos Lusíadas, não na perspetiva clássica dos Descobrimentos mas como “encontro entre povos, entre línguas e entre nações”.
Na sua opinião, “o mar, a água, os rios, a navegação são as componentes mais importantes no poema de Camões”, referindo-se aos Lusíadas. “O mar em Camões não é só simplesmente um cenário de fundo, mas é também uma voz, tem poder, tem força”, defende Blackmore, reforçando a ideia de que os Lusíadas são sobretudo “um poema épico de navegação”.
“O sortilégio de uma obra de arte é a sua capacidade de proporcionar sempre outras abordagens e diferentes leituras, desde que haja alguém que seja capaz de descobrir uma nova forma de a olhar.
Foi isso que aconteceu este sábado em Constância com «Os Lusíadas» vistos pelo Prof. Blackmore: é o mar que sustenta a epopeia e inspira o épico, o mar que antes separava e passou a unir, o mar que antes era só a superfície das águas onde se navegava e os portugueses resgataram a Baco, tomando-lhe as profundezas do domínio dos deuses para o domínio dos homens”, resume António Matias Coelho.
A conferência do Prof. Blackmore dá início à internacionalização que a Casa-Memória pretende prosseguir e surge na sequência de anteriores comunicações sobre a obra de Camões, ali apresentadas por prestigiadas figuras da cultura portuguesa como Guilherme d’Oliveira Martins, Eduardo Correia Ribeiro, José Manuel Sobral, Jorge Paiva e Carlos Ascenso André, entre outros.
“Um ano de alma cheia” para a Associação Casa-Memória de Camões
A presença do professor Josiah Blackmore em Portugal e em Constância resultou de uma sugestão de uma amiga de António Matias Coelho, presidente da Associação Casa-Memória de Camões. Essa amiga e Blackmore foram colegas na Universidade de Toronto, amizade que se mantém até hoje e que possibilitou esta deslocação a Constância.
Para Matias Coelho “é um facto notável” conseguir-se juntar 50 pessoas num sábado à tarde na Casa-Memória para ouvir falar sobre Camões. “Significa que não é verdade que as pessoas não ligam à cultura. Quando as iniciativas têm qualidade, quando as pessoas estão informadas, acabam por aderir”, realça.
Considera a conferência de Blackmore “um momento alto, um momento marcante” na vida da Associação a que preside. E representa o corolário de um ano “de alma cheia”. António Matias Coelho recorda os concertos, os lançamentos de publicações, as visitas guiadas e “as melhorias muito significativas” realizadas no Jardim-Horto.
“Sem termos dinheiro, fizemos um investimento de muitos milhares de euros. Conseguimos realizar obras de restauro que há dois anos pensávamos que não era possível”, sublinha o dirigente. Refere a construção do edifício novo de entrada, a rota de Camões, o restauro do Pavilhão de Macau, o arranjo do Lago e a recuperação da cascata, quase concluída.