A LÍNGUA PORTUGUESA E A LUSOFONIA

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Tudo começou com a gesta extraordinária dos Descobrimentos portugueses, inaugurando um diálogo entre povos de latitudes varias, de línguas e culturas diversas, marcado pelo ineditismo e pela abertura em ao relação novo, ao não semelhante, ao diferente. Um processo de assimilação e integração, talvez único ao longo da história, que teve por base e lastro […]

Tudo começou com a gesta extraordinária dos Descobrimentos portugueses, inaugurando um diálogo entre povos de latitudes varias, de línguas e culturas diversas, marcado pelo ineditismo e pela abertura em ao relação novo, ao não semelhante, ao diferente. Um processo de assimilação e integração, talvez único ao longo da história, que teve por base e lastro uma língua chamada portuguesa.

Uma língua que, para  Virgílio Ferreira, é o lugar donde se vê o mundo, um lugar de pensamento e sensibilidadeDa minha língua vê-se o mar, diz ele.  “Na minha língua, ouve-se o seu rumor, como, na de outros, se ouvirá o da floresta, ou o silêncio do deserto. Por isso, a voz do mar foi, em nós, a da nossa inquietação.

Assim, o apelo que vinha dele, foi o apelo que ia de nós.”  Esse apelo recíproco e inexorável, acrescento eu, que alimentou a gesta heróica dos  primeiros navegadores, que trouxe glória e poder a Portugal e que teve, inclusive, o privilégio de encontrar em Luis de Camões o seu grande Cantor, cobrou também altíssimo preço em sofrimentos e em vidashumanas, como nos atestam, já a partir de meados do século XVI, os relatos da História Trágico-Marítima. Para passar além do Cabo Bojador, era preciso de fato passar além da dor.  Valeu a pena? Tudo vale a pena, se a alma nãé pequena, pergunta e responde outro imenso Poeta, séculos mais tardeE a alma dessa gente não era pequena!

    “Não vivemos em uma nação, mas sim em uma linguagem. Não se enganem: nossa língua é nossa pátria”, proclamava enfaticamente o filósofo Emil Cioran. Ou, mais simplesmente, como queria Federico Fellini, “uma língua diferente é uma visão diferente da vida”. O poeta Olavo Bilac já dizia que“A Pátria nãé a raça, nãé o meio, nãé o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos:  é o idioma criado ou herdado pelo povo”. Mais tarde, seria o próprio Fernando Pessoa a proclamar que “Minha Pátria é a Língua Portuguesa”.

 E fazendo eco à expressão de José Eduardo Agualusa, para quem nossa língua é hoje o resultado de uma construção conjunta, Mia Couto retoma e complementa Pessoa, ao proclamar que “Minha Pátria é a minha Língua Portuguesa”, levando assim em conta as variantes não apenas lexicais, sintáticas ou fonéticas, mas igualmente o entorno psicológico e social em que a língua é falada.

O que realmente importa é que de Camões, Gil Vicente e Eça de Queiroz a Machado de Assis, Jorge Amado e Guimarães Rosa; de Fernando Pessoa a Carlos Drummond de Andrade e José Saramago; de Jorge Barbosa a Craveirinha e Pepetela; de Alda do Espírito Santo e Alda Lara a Cecília Meirelles e Sophia de Mello Breyner; de Luandino Vieira a Baltazar Lopes e Mia Couto, a nossa Língua é uma só, com todas as suas variantes, que apenas a fazem enriquecer.

Uma das grandes línguas globais de nosso tempo, policêntrica e pluricontinental, constitui um dos fatoresdeterminantes na formação da identidade nacional de oito dos nove países que compõem a CPLP, além de representar o mais forte traço de união entre eles, a despeito da distância geográfica que os separam, espalhados que se acham pelos quatro continentes.

Alcançamos hoje um total de 270 milhões de pessoas vivendo nos países que têm o Português como língua oficial. Por outro lado, há cerca de 1,5 milhão de naturais do Brasil vivendo no estrangeiro, 650 mil moçambicanos, 440 mil angolanos, 180 mil cabo-verdianos. E essa imensa diáspora, que conta hoje com milhões de falantes de Português disseminados por terceiros países no mundo, só vem naturalmente  reforçar e ampliar o alcance da própria Lusofonia.

 Poderíamos ainda acrescentar, com o apoio de pesquisas realizadas pelo Observatório  da Língua Portuguesainstituição lusófona sediada em Lisboa e que tenho hoje a honra de presidir, que “como língua materna, o Português é a que apresenta atualmente o maior crescimento em todo mundo, bastante superior ao do espanhol e do inglês. Já é atualmente a terceira língua mais falada do Ocidente, a primeira do hemisfério sul e a quinta de todo o mundo.

No final deste século, segundo a ONU, terá cerca de meio bilhão de falantes. E não nos esqueçamos de que apenas pouco mais de 1% das línguas existentes hoje são faladas por mais de 10 milhões de pessoas. Como lembrava recentemente o Ministro da Cultura de Portugal, Santos Silva, nossa língua é « uma realidade dinâmica e multiforme, com todas as variantes dispondo de igual valor.

Não há um centro para a língua portuguesa; ela não possui só uma norma padrão, nem ninguém pode, sobre ela, invocar direitos especiais de propriedade.” Esta língua falada em todos os Continentes é, portanto, o nosso grande tesouro em um mundo cada vez mais globalizado, nosso capital maior, seja em termos culturais, de conhecimento, de comunicação, seja em termos políticos e econômicos, como os estudos estão a demonstrar.


Fonte: Observatório da Língua Portuguesa
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