O Museu da Língua Portuguesa, uma ideia com 10 anos, para ocupar os antigos silos de cereais.

São sete silos de betão armado, encimados por uma torre, construídos em meados do século passado e com 27 metros de altura.
Há muito que marcam a paisagem brigantina e a memória industrial irá permanecer de pé. Mas a longa espera destes silos pelo fim da imobilidade terminou. Os silos, que já guardaram cevada e trigo, vão agora “armazenar” o novo Museu da Língua Portuguesa, uma ideia com que Bragança sonha há vários anos e que deve começar a ser construído daqui por seis meses.
Localizados em pleno centro urbano, os silos “vão ser convertidos para um projeto expositivo que mantenha viva a memória industrial, mas com outro uso”, explica Joaquim Portela. O arquiteto que desenhou o novo museu “reconhece que se trata de um desafio difícil, mas possível e desafiador”.
O projeto inclui “nove pisos, nem todos de utilização pública, pois alguns serão áreas técnicas”, num projeto pensado “para manter a segurança de quem visitará o museu, afastar uma eventual sensação de claustrofobia e com sistemas de segurança e elevadores”. Tudo “integrado no miolo das colunas circulares de betão”.
O arquiteto esclarece que a ideia “basilar do projeto é salvaguardar os silos, que têm um valor arquitetónico industrial ao qual a cidade se habituou”.
Localizado numa colina, no miolo urbano da cidade, o projeto do museu tem um prazo de construção de 18 meses e surge enquadrado no Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano de Bragança. Para já, foi aprovada a “empreitada de obras públicas Museu da Língua Portuguesa, visando a construção deste equipamento, cujas obras deverão arrancar em novembro, devendo estar concluído em finais do próximo ano”, explica o autarca brigantino.
Hernâni Dias considera o museu “um equipamento importante para a afirmação da cidade e da região, sobretudo ao nível da comunidade dos países de língua portuguesa, e passará a ser o segundo existente em todo o mundo”.
TURISMO CULTURAL
Na região, as expectativas são elevadas, sobretudo desde que, em 2016, o Presidente da República apadrinhou a edificação daquele que será o segundo museu da língua portuguesa em todo o mundo. Para a cidade, “é o continuar do caminho de atração de um turismo cultural, com novas ofertas e mantendo uma ligação estrutural com a língua e cultura portuguesas”, adianta o autarca.
O processo “avança a passos largos e talvez em novembro, concluída a exigente fase da contratação pública, seja possível lançar o concurso para o processo de adjudicação”, assevera Hernâni Dias. Para já, está concluída toda a investigação relativa aos conteúdos, identificação dos públicos e definição do processo expositivo.
Para o arquiteto, esta é também uma forma de “reabilitar e transformar a área urbana envolvente”, e para isso será “construído um edifício, que ficará interligado com os silos, para albergar um auditório, que fará a ligação com a praça existente”.
O desenho da exposição dos conteúdos do futuro museu “ainda está em planificação e só depois de concluído poderemos ter uma melhor perceção do número de visitantes”, adianta Joaquim Portela. O investimento, de €9 milhões, financiado por fundos comunitários, “transformará por completo o interior dos silos, reabilitando-os num processo que está estudado parafuso a parafuso”, conclui o arquiteto.
A cumprirem-se os prazos, será o corolário de um projeto que leva 10 anos e que passou por um litígio de propriedade entre o Instituto Politécnico de Bragança, a autarquia e a Empresa Pública de Abastecimentos de Cereais, que depois de extinta ficou com o património administrado pelo Ministério das Finanças.
A ideia da criação deste museu [existe um outro idêntico no Brasil] surgiu há 11 anos, durante os colóquios da lusofonia organizados em Bragança.
Ultrapassados os obstáculos, foi criado um consórcio para a instituição do Museu da Língua Portuguesa, que reúne a Câmara Municipal, o Instituto Politécnico de Bragança e a Academia das Ciências de Lisboa.
Fonte: Expresso